Não se envolver em complicações.
Baltasár Gracián: Eis uma das primordiais preocupações da prudência. É longo o caminho a percorrer de um extremo a outro, e os prudentes permanecem na área central da sensatez. É decisão amadurecida romper tal estado pois é mais fácil tirar o corpo do perigo do que sair-se bem dele. As situações perigosas colocam nossos bom senso na berlinda, e é mais seguro evitá-las por completo. Uma complicação traz outra maior, conduzindo-nos à beira do desastre. Alguns são precipitados, por temperamento ou por nacionalidade, e é com rapidez que se envolvem em situações perigosas. Mas aquele que caminha à luz da razão avalia a situação e percebe que há mais valor em evitar o perigo do que em vencê-lo. Vendo que já existe um tolo imprudente, evita ser-lhe segundo.
ATENA: Vivemos numa sociedade em que o agir é estimulado antes do pensar, pois o pensar é perigoso e o agir mediado e focado pelo pensamento ainda mais. Se quando te pegam pensando te pedem que "saia da zona de conforto" e entre na "zona de ação" respire fundo e avalie o interesse do emissor da mensagem. A quem interessa que seu raciocínio seja sempre fragmentário, rápido e superficial? A quem interessa que você aja seguindo as conclusões tiradas dessa forma de raciocínio quebrado, frágil e inofensivo? Não se envolver em complicações é uma boa metáfora para a ideia de que nem tudo o que nós pensamos, criamos ou produzimos é do interesse dos demais até que esteja plenamente pronto. Quase todas as grandes idéias, invenções e criações do homem foram criadas em segredo, até que estivessem plenamente "maduras" para ganhar mundo. Não se envolver em complicações significa não só abster-se do vício impróprio de falar demais, mas principalmente saber fazer a divisão necessária entre o que se pensa e se cria e o que este ou aquele determinado amigo, colega ou familiar está apto a ouvir.