sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Gestão Inteligente


A criação do Instituto Atena acontece em um momento extremamente oportuno, no qual lidamos com um contexto organizacional pautado por novas contradições, que as empresas atuais precisam superar ao definir e colocar em prática seus modelos de gestão, em especial de seus elementos humanos.

Autofagia do discurso do trabalho
Se por um lado as organizações nunca precisaram tanto daquilo que há de mais humano – criatividade, emoção, sensibilidade –, por outro, continuam estimulando a construção de ambientes de trabalho em que esse caráter encontra pouco espaço para prosperar, na medida em que acirram o individualismo, a competição entre as pessoas, intensificam o ritmo de trabalho e estreitam os vínculos entre desempenho e resultado.

Inadequação, incoerência e desgaste
Diversas pesquisas envolvendo profissionais da Recursos Humanos e estudos de casos em empresas nacionais apontam que as organizações brasileiras vêm seguindo tendências internacionais de mudanças em suas práticas de gestão de pessoas, destacando-se inovações nos processos de capacitação, desenvolvimento e retenção.

Não obstante o alinhamento a tais tendências, os achados de vários desses estudos nacionais revelam-se cautelosos quanto à possibilidade de generalização dessas transformações para o conjunto das organizações brasileiras, as quais, em sua grande maioria, ainda se defrontam com modelos bem tradicionais de gestão. Isso sem considerar a cultura brasileira e mesmo a cultura de trabalho latina, criando um ambiente árido, inspirado em um modelo de gestão adequado a uma cultura diversa e sub-aproveitando nossos valores mais enraizados, como a coesão, o humor, a criatividade e o desempenho e crescimento que qualquer empresa nacional ou instalada aqui pode, a partir desses pontos, alcançar. Nossos concorrentes sabem disso e não é sem um propósito bem definido que nos forçam e insistem, diariamente, para limitarmos o que temos de melhor. Capital é investido nisso, muito capital, e ninguém investe capital sem um retorno, uma meta, um interesse.

Missão inteligente
Temos o compromisso de levar nossos treinandos e parceiros a compreender melhor seus próprios comportamentos e os dos outros, e também desenvolver relações interpessoais sadias e produtivas, tanto no trabalho como em suas vidas pessoais.

Compreendemos a necessidade urgente de repensar uma lógica de trabalho responsável pelo crescimento de fenômenos nocivos ao próprio trabalho, como o absenteísmo, o ataque à saúde mental dos funcionários, a perda do sentido do trabalho e o aparecimento de novos e graves problemas como o assédio moral.

A Programação Neurolingüística (PNL) constitui uma ferramenta fundamental para a direção das pessoas e para a gestão das organizações. Enquanto disciplina do comportamento, ela fornece maneiras de descrever, de compreender e mesmo, algumas vezes, prever as atitudes e os comportamentos dos administradores e funcionários. Contribui também para o aperfeiçoamento das práticas de administração ao ajudar as pessoas a encontrar sentido em seu trabalho e desenvolver habilidades interpessoais. O Instituto ATENA trabalha acompanhando as mais atuais descobertas e pesquisas da neurofisiologia, que permite compreendermos melhor os fenômenos da consciência, bem como os processos organizadores das condutas humanas, como a percepção, a motivação e a aprendizagem.

Renato Kress,
Diretor do Instituto Atena

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Estratégia Social XIV

Esforço e Talento

Baltasár Gracián: Não há superioridade sem essas duas qualidades. Havendo ambas a superioridade supera a si mesma. A mediocridade com esforço consegue mais que os superiores que não fazem. O trabalho dignifica. Com ele adquire-se reputação. Alguns são incapazes de se aplicar mesmo às tarefas mais simples. O esforço depende quase sempre do temperamento. É aceitável ser medíocre num trabalho sem importância: há a desculpa de que fomos talhados para coisas mais nobres. Porém contentar-se em ser medíocre numa tarefa inferior, podendo ser excelente na mais elevada, não tem desculpa. Tanto a arte quanto a natureza são necessárias, e a aplicação as consagra.

ATENA: A sociedade da velocidade, da informação instantânea, superficial e muitas vezes enviesada, dos avanços científicos por minuto, dos modismos instantâneos, declara que o talento pode tudo e esquece - não sem um propósito subliminar - que sem dedicação e esforço esse talento nada mais é que o potencial que falece em germe. Grandes idéias percorreram a mente de vários pequenos homens, como pássaros, mas só puderam fazer ninhos onde encontraram mais que um terreno vasto, encontraram um terreno onde puderam fixar raízes fortes, alimentadas por ações cotidianas.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Pensamento Estratégico e Gestão


(Adaptado do texto introdutório do curso "Estratégia em Ação - Módulo Básico")
Um dos motivos que me levou a desenvolver o Instituto Atena foi o grande prazer que tenho em aprender. Aprender em todos os sentidos, vivendo e conversando, ouvindo, vendo e lendo. Jamais tomando uma interpretação como "final", mas como válida para aquele momento. Não consigo consider “teoria” um palavrão, nem poderia me desculpar por fazer dela um componente importante de meus treinamentos. Existe uma tendência geral – estrategicamente difundida, afinal, “conhecimento é poder”, já dizia Thomas Hobbes, clássico da política – de crer que ser teórico é ser desligado da realidade, desprovido de senso prático, “alienado”. Vender a fórmula de que o agir é precursor do pensar é rentável e existem empresas, editoras e profissionais que vivem disso.
Um brilhante cientista social disse uma vez: “Nada é tão prático como uma boa teoria”. Se pensarmos bem, todos os médicos, engenheiros e físicos bem sucedidos têm que concordar: seriam incapazes de praticar seu trabalho moderno sem as teorias. Não há dúvida: o melhor dos trabalhos, aquele que rompe barreiras e atinge o que até então parecia impossível, só se faz “sobre os ombros de gigantes”.

A Teoria e o dia-a-dia


Em
PNL temos a clara compreensão de que as teorias são úteis porque reduzem drasticamente a necessidade de armazenar grandes massas de dados individuais. Ninguém “levanta da cama, vai ao banheiro, desenrosca a tampa da pasta de dentes, põe pasta na escova, escova os dentes, toma uma ducha ou lava o rosto, vai até a cozinha, corta as laranjas, liga o espremedor na tomada...”, nós simplesmente “vamos ao banheiro” e “fazemos o café”. O resto está implícito.
Somos seres carregados de teorias intrínsecas. Nosso comportamento é guiado por sistemas de idéias que vamos internalizando (e, muitas vezes, cristalizando!) com o correr dos anos. Muito pode ser apreendido sobre nós mesmos, e os sistemas de valores que estruturam nossas atitudes, colocando isso “pra fora”, examinando cuidadosa e minuciosamente nossas escolhas e comportamentos triviais e comparando com formas alternativas de ver o mundo. Essa é uma das primeiras e mais importantes práticas que vivenciamos em nossos cursos.
“Sobre aqueles que proíbem alguém de estudar nos livros de filosofia, por acreditarem que alguns homens de pouco valor incidiram no erro por tê-los estudado, dizemos que se assemelham a quem porventura proibisse uma pessoa sedenta de beber água fresca e boa, deixando-a morrer de sede, argumentando que há quem morra afogado na água.”
Ibn Ruchd Averróis

O problema da “malícia inocente”
Em primeiro lugar, se pretendemos realmente ser estrategistas em nossas vidas, empresas ou projetos, precisamos urgentemente perder um pouco do que chamaremos de “malícia inocente”. A “malícia inocente” é a noção pueril (infantil) de que existe uma e apenas uma resposta, sistema ou forma de encarar o mundo que é válida, eficiente, eficaz e funcional. O caso crônico (grave) da “malícia inocente” é a crença arraigada de que alguém vai transformar essa solução milagrosa para os problemas da humanidade em um sistema, criar um livro e nos vender (geralmente até em promoção! Veja você!).
Isso é muito bom para criar campanhas de marketing – transformar determinado produto, livro ou idéia em algo completamente absoluto e indispensável -, mas em estratégia é um erro básico. Apoiar-se em uma única fórmula de ver o mundo: teoria dos jogos, teoria dos sistemas, física quântica, administração clássica, hipercompetitividade a qualquer custo, o que for, além de privar a todos nós da riqueza e variedade da realidade – que sempre está além de todas as teorias -, vai tornar-nos dependentes dessa visão que, uma vez derrotada, nos levará imediatamente ao desespero, perda de referenciais, estresse, desilusão, perdas financeiras e por aí vai, descendo a ladeira, como bola de neve em desenho animado.

Eficácia Operacional e Estratégia
Outro erro clássico é confundir Eficácia Operacional (EO) com Estratégia. Atualmente temos uma avalanche de técnicas e processos gerenciais que, num ambiente de hipercompetitividade, leva várias empresas a, na busca por nunca se verem “atrás” de seus concorrentes, tornarem-se todas idênticas, copiando os mesmos processos de gerenciamento a fim de obter os mesmos resultados.

Esse tipo de concorrência, baseada em eficácia operacional, é mutuamente destrutiva, gerando atritos que somente podem ser detidos pela eliminação da concorrência. Afinal, o foco acaba sendo o concorrente e não mais o seu negócio especificamente. Todo esse quadro – infelizmente muito comum – gera a constante pressão por desempenho que, unida à falta de visão estratégica (que estudaremos, treinaremos e desenvolveremos ao longo de todo
esse curso), impede que muitas empresas tenham qualquer idéia melhor do que a de comprar suas rivais. A fusão torna-se assim uma forma de eliminação de concorrentes, mostrando que o foco principal não estava numa estratégia orientada para uma vantagem competitiva, mas sim no “problema” que o rival representava ou poderia vir a representar num futuro próximo.

Definições e ilusões
Na definição de Michael E. Porter*: “Estratégia é a criação de uma posição de valor e única, envolvendo um conjunto de atividades diferentes. Se houvesse apenas uma posição ideal, não haveria necessidade de estratégia.”

No caso de haver apenas uma “posição ideal”, teríamos apenas que seguir alguns ajustes operacionais para nos adequarmos à melhor forma de atingir determinado objetivo fixo. Um bom exemplo disso está em personificarmos e endeusarmos uma instituição flexível, maleável e de altíssima rotatividade a fim de tentarmos rotulá-la para seguirmos passos que nos levariam a esses rótulos: perfeita, estável, livre, infalível, inevitável. Soa familiar? É o que os jornais, revistas e muitos livros fazem com o Todo-Poderoso “Mercado”, nosso Demiurgo – deus criador da realidade - contemporâneo, que ora acorda de mal-humor, depressivo, eufórico, tenso e por aí vai.

Como o exemplo acima demonstra, a concorrência dentro de um sistema complexo (sociedade, mercado, valores, cultura, família) não é um campeonato de futebol em que exista somente um “campeão” e, conseqüentemente uma meta ou um objetivo a alcançar. Nosso mundo – graças a Deus! - é mais complexo que isso e boa parte dessa noção de que tudo se resume à eficácia operacional é uma estratégia deliberada dos que pensam estrategicamente e, conseqüentemente, tendem a estar sempre à frente.

“A” Verdade Absoluta! (e as mentirinhas que a sustentam)
Não há uma melhor maneira em administração, como em ciência política, como em economia; em quase nenhuma área das ciências humanas – e, creia, na maior parte das exatas também! – há uma fórmula absoluta que funcione para todas as organizações e dentro dos mais variáveis contextos. Mesmo quando uma “receita de bolo”, um padrão ou teoria parecem eficazes dentro de um determinado contexto, elas exigem um entendimento sofisticado de qual é o determinado contexto e de como ele funciona. A mesma tentativa de solução, para o mesmo problema, no mesmo grupo em dias diferentes, pode ter resultados completamente opostos. Experimentem exercitar a motivação de seus funcionários ao trabalho no primeiro dia de trabalho do ano e no último dia antes das férias!
“Não recebemos a sabedoria.
Precisamos descobri-la,
Depois de um trajeto
Que ninguém pode fazer por nós,
De que ninguém pode nos poupar.”
Marcel Proust
Renato Kress
Diretor do Instituto Atena
Conheça o Curso que deu origem a esse artigo:
Estratégia em Ação – Módulo básico

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Liderança e Maturidade

A marca da liderança

A verdadeira marca de um líder é a vontade de ficar com um curso de ação ousada - uma estratégia de negócios não convencionais, um roteiro de desenvolvimento de produtos únicos, uma campanha controversa - assim como o resto do mundo se pergunta por que você não está em marcha passo a passo com o status quo. Em outras palavras: os verdadeiros líderes criam suas próprias tendências e lógicas de trabalho enquanto outros vagueiam atrás dos modismos estrategicamente disseminados na mídia. Eles entendem que, numa era de hiper-concorrência e perturbações “non-stop”, a única maneira de se destacar da multidão é a favor de algo especial. Esse algo especial necessita de um envolvimento pessoal e isso só se dá de suas maneiras:

Paixão
O primeiro é obtendo um envolvimento afetivo no processo de liderança, ou seja, deixar-se “apaixonar” por ele. O envolvimento pode ser por meio da raiva represada por qualquer motivo, da agressividade que necessita encontrar vazão e lhe fornece energia extra para novos trabalhos, da paixão por uma determinada idéia, do carinho para com determinada empreitada ou causa. Sem paixão a liderança vira rotina e se perde no fácil caminho dos modismos. Crie seu diferencial, apaixone-se!

Caráter
É importante estabelecer o seu estilo e, para que ele possa ser mantido (principalmente por você), é imprescindível que ele tenha a ver com o seu caráter pessoal. Ninguém consegue passar a maior parte da vida (acostume-se com a idéia, a maior parte da sua vida você passa trabalhando) representando um papel. Só para mencionar alguns riscos, do mais leve para o mais grave: deficiência cognitiva (dificuldade de aprender, memorizar e raciocinar), perturbação do processamento da informação e da comunicação, crises existenciais, desestruturação da personalidade e por aí afora. Portanto, antes de mais nada, trate de se conhecer! Só conhecendo bem seus alicerces um líder pode saber onde e como pode também, servir como um para a sua meta (seja ela uma empresa, sua carreira ou um grande projeto em específico).

Saber nada sobre tudo ou saber tudo sobre nada?
Dificilmente alguém será bom o suficiente para ser “bom em tudo” hoje. Mesmo os que passam essa idéia gastam rios de recursos com seus assessores e marqueteiros para construir essa imagem surreal de si mesmos e acabam virando alvos não só de admiração, mas também da inveja e dos gracejos alheios. Quanto mais perto estamos desses super-profissionais mais percebemos os grandes sacrifícios que fazem para manterem sua altíssima performance. Em geral esses sacrifícios acabam culminando em infartos, ataques cardíacos, acidentes vasculares etc. Para manter uma saúde relativamente boa, digna de quem compreende que a liderança é um processo que comporta vários tiros de 200 e 400m antes que se possa olhar para trás e perceber que corremos os 42km de uma maratona, é importante percebermos o poder do foco e da oportunidade.


Foco
Que tal se concentrar em um diferencial que esteja diretamente ligado ao seu caráter enquanto indivíduo e à sua meta enquanto profissional? Você pode ser: o mais elegante, o mais eficaz, o mais confiável, o mais focado, o mais estável, o mais amigável, o mais flexível etc.
Durante décadas, as organizações e seus líderes eram confortáveis com as estratégias e práticas que os mantinham no meio da estrada - que é onde os clientes estavam, isso é, onde se sentiam seguros e tranqüilos. Isso exigia ser muito bom em muita coisa, para demonstrar diferenciais estando sempre no mesmo rumo de seus concorrentes.

No novo mundo dos negócios, com toda a pressão midiática e profissional sobre a “mudança” (o fato da palavra estar como um predicado solto é mais um dos inúmeros fatores de instabilidade na mente do funcionário e do líder corporativo, a tal “mudança”, imperativa e incerta, espreita como uma armadilha eterna num tabuleiro de xadrez cujas cores dos quadrados mudam como numa danceteria), com tantas novas maneiras de fazer quase tudo, o meio da estrada tornou-se a estrada para lugar nenhum.

"Não há nada no meio da estrada, só listras amarelas e tatus mortos." - Jim Hightower

Ao que poderíamos acrescentar que, atualmente, as empresas e seus líderes lutam para fora da multidão, até mesmo quando eles jogam pelas mesmas regras em um mercado lotado de concorrentes, variantes e estímulos.


Oportunidade
O conceito de “oportunidade” é estudado a fundo pelo renascentista e filósofo político italiano Nicolau Maquiavel e não é à toa que muitos dos grandes líderes de todos os tempos têm como livro de cabeceira obras suas como “O Príncipe” e “A Arte da Guerra”. A oportunidade, ou a “occasione” como o pensador florentino a chamava, era justamente a habilidade que o “condottieri” (o “condutor” ou “líder”) deveria desenvolver para identificar e também para – preferivelmente - criar a melhor situação possível para realizar uma determinada ação. Dentro de uma teoria dos sistemas seria encontrar (ou influenciar para que se forme) a melhor configuração possível para depois implementar uma mudança dentro do sistema. Não é à toa que muitos cientistas políticos, especializados na obra de Maquiavel, têm sido contratados para formular estratégias empresariais junto a grandes administradores.

Não pensar diferente nem igual, pensar por si
É difícil superar a força da sabedoria convencional - formas estabelecidas de fazer as coisas, as formas familiares dos tamanhos dos mercados, seus ditames e modismos. É por isso que é difícil para muitos dirigentes fazerem algo realmente novo, efetivamente abraçar idéias únicas e inovadoras em um mundo cheio de pasteurização do pensamento. Creio que esse pequeno texto possa ser uma descrição sumária de algumas funções de liderança hoje.

Que hajam os líderes institucionais, os chefes e diretores burocráticos, como cientista político compreendo muito bem sua existência, mas na era da informação insandecidamente rápida e desordenada, precisamos de cérebros criativos, de seres humanos capazes de efetivamente concatenar idéias em torno de um único fim e tudo isso de forma inusitada, que demonstre um diferencial que agregue valor. Perdoem-me os que já conhecem a idéia, mas a melhor forma de finalizar esse pequeno artigo me parece ser citando um dos nossos maiores gênios:

“Para mim a melhor definição de loucura é ter sempre o mesmo comportamento e esperar resultados diferentes” - Albert Einstein

Texto: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA
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Estratégia Social XIII

Variar no modo de agir

Baltasar Grácian: Isso vai confundir os outros, em especial seus rivais, despertando-lhes a curiosidade e a atenção. Se agir sempre de acordo com a primeira intenção, seu agir será previsível e frustrado. É fácil abater o pássaro que voa em linha reta, mas não aquele que altera o seu vôo. Não aja sempre conforme a segunda intenção, tãopouco; repita seu agir e os outros descobrirão a artimanha. A malícia fica à espreita, é preciso uma grande sutileza para enganá-la. O jogador perfeito nunca move a peça que se espera e muito menos a peça que seu adversário desejaria.

ATENA: Essa máxima se aplica específicamente no campo da ação, não no campo dos valores, das crenças ou de nossa identidade. Ao variarmos a forma de agir não só exercitamos como demonstramos nossa flexibilidade e criatividade, fazendo-nos adversários temíveis e estrategistas renomados entre nossos conhecidos. Poucas vezes temos a oportunidade de agir clara e retamente em direção ao nosso objetivo como quando ele é claro para nós e completamente obscuro aos nossos concorrentes. Agir de modo variado é, também, nublar o concorrente, submergi-lo no estado aparentemente caótico de nossas atitudes.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Estratégia Social XII

Conhecimento e Intenções nobres

Baltasar Grácian: Garantem a fecundidade do seu sucesso. Quando o bom entendimento se une com a má intenção, não se tem um matrimônio, mas uma violação monstruosa. A intenção maligna envenena as melhores qualidades. Auxiliada pelo conhecimento, corrompe com maior sutileza. Infeliz a excelência que se entrega à maldade! Conhecimento sem bom senso significa loucura em dobro.

ATENA: A aceleração do desenvolvimento das comunicações têm trazido à tona a importância da clareza nos processos produtivos e a responsabilidade no que tange aos "sub-produtos" do trabalho. Dessa forma termos como a "responsabilidade" - entendida como clareza e transparência - venham se tornando lugares-comuns no meio industrial ou empresarial e estejam avançando para as esferas social, econômica e ambiental. Esses preceitos trazem às empresas e suas campanhas justamente o que elas mais necessitam perante o público: valor e credibilidade.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Estratégia Social XI

Cercar-se de auxiliares competentes

Baltasár Gracián: Os poderosos são felizes quando cercados de valentes de notável entendimento, capazes de livrá-los das enrascadas em que foram colocados pela própria ignorância, e de tomarem seu lugar contra as dificuldades. Saber utilizar os sábios constitui uma qualidade única: melhor do que escravizar os reis, como fazia Tigrano(1). É uma nova maneira de dominar os outros no que tange o melhor da vida: transformar com arte em servidores aqueles que a natureza fez superiores. Temos pouco para viver e muito para saber, e não se vive sem saber. Requer uma habilidade notável estudar e aprender sem esforço; estudar muito por meio de muitos, e saber mais do que todos eles juntos. Faça-o, e falará por muitos em qualquer reunião. Falará por tantos sábios quantos o precederam, e ganhará fama como oráculo graças ao suor dos outros. Escolha um tema e permita às cabeças que o rodeiam proporcionar-lhe um conhecimento concentrado. Se não pode fazer do conhecimento seu servo, torne-o seu amigo.

ATENA: Talvez a habilidade mais importante de um bom líder, qualquer que seja o ramo em que atue, seja justamente saber coadunar e gerenciar o maior número dos melhores talentos que puder conceber em prol de sua "causa", de sua "idéia", de sua "missão". Esse talento requer habilidade (e humildade) para reconhecer talentos superiores aos seus e principalmente convergentes com os teus, complementares, requer saber gerenciar os egos e os relacionamentos quando da criação de um grupo e requer, principalmente, a habilidade de saber "apaixonar" os que estão à sua volta, contaminá-los com os valores que estão impregnados nos teus objetivos. Em qualquer circunstância na vida é preciso saber aprender algo, mesmo que seja aprender como evitar algo ou como não agir em determinada situação. Para quem tem olhos para ver e uma mente astuta para antecipar e aprender, o universo é um mapa estraordinário.

(1) Rei da Armênia (século I a.C.) que conquistou a pátria e costumava aparecer em público servido pelos príncipes que derrotava.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Estratégia Social X

Realidade e também modos

Baltasár Gracián: Não basta a substância, é necessária também a circunstância. O mau jeito estraga tudo, inclusive o que é justo e razoável. Já a maneira correta repara tudo: abranda uma negação, adoça a verdade e até faz a velhice parecer bonita. O como das coisas é muito importante, e um comportamento correto conquista a afeição dos outros. O bel portarse é algo precioso na vida. Fale e comporte-se bem, e promoverá o seu sucesso.

ATENA: Um dos maiores aprendizados da liderança, seja no campo em que for, é o senso de "oportunidade", o que Nicolau Maquiavel chamava de "occasione", a ocasião adequada de agir. Todo o conteúdo do mundo não serve de nada se não temos a sensibilidade de percebermos o momento adequado de começarmos a expô-lo. Como em qualquer luta o golpe mais reto e rápido, com a força mais intensa é descarregado no vazio se não obtém a abertura certa, e, invariavelmente expõe o atacante a um contragolpe tão ou mais fulminante do que o que foi desferido. Atente para a "guarda" mental, física, emocional do universo ao seu redor e prepare-se, treine, para que não haja força no universo que te faça hesitar na oportunidade certa.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Estratégia Social IX

Agir com intenções: seja segunda ou primeira

Baltasár Gracián: A vida do homem consiste numa milícia contra a malícia do homem. A astúcia luta com estratégias de intenção. Nunca faz o que indica. Aponta para enganar, golpeia indiferente no ar e desfere o golpe, atuando sobre a realidade imprevista com dissimulação atenta. A fim de consquistar a atenção e a confiança dos outros, deixa transparecer um intento. Logo em seguida, porém, muda de posição e vence pela surpresa. A inteligência perspicaz previne-se da astúcia observando-a detidamente, espreita-a com cuidado, entende o oposto do que a astúcia quis que compreendesse e percebe de imediato as falsas intenções. A inteligência ignora a primeira intenção, aguardando a segunda, e até a terceira. A simulação cresce mais ainda ao ver seu truque descoberto e tenta enganar contando a verdade. Muda de jogo, engana com sua aparente falta de malícia. sua astúcia se baseia na maior franqueza. Mas a observação se adianta, discernindo através de tudo isso, percebendo as sombras envoltas em luz. Decifra a intenção, que mais parece singela. Assim é a astúcia da serpente Píton contra a franqueza dos penetrantes raios de Apolo.

ATENA: A disputa de malícias e inteligências faz parte do caldeirão de forças que se comungam quando colocamos seres humanos em contato. Todos temos nossos interesses e interesses são normais, inerentes à espécie humana. Quando um deseja conforto e precaução para a família outro deseja salvar a própria pele ou a própria honra mesmo sem considerar o que fosse mais justo para os demais. Nada disso impede que muitos lutem pela seriedade ou clareza nos processos administrativos, sejam públicos, sejam privados, ou pela vida de expécies em extinção. Apenas é necessário, nesse jogo, procurar as astúcias mais danosas ao coletivo e limitar seu raio de ação para que não venham a prejudicar o todo em salvaguarda de poucas partes. Perceber que a malícia vai usar do seu último recurso - falar a verdade - como artifício para manter-se de pé, é saber o momento exato em que ela pode ser exposta e, se necessário, aniquilada.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Tradição indígena Pawnee



"Os territórios interiores são semados de emboscadas e armadilhas. São as manias, os vícios, os maus hábitos, as feridas da alma, jamais curados. Desce em ti munido da tocha do espírito. Toma consciência da maravilhosa aventura que te é ofertada: nesta terra não houve outros viajantes antes de ti."
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"Quando recorres à meditação, lembra-te de que ignora tudo a teu próprio respeito. Prepara-te como para um grande encontro. Tu vais percorrer um território sagrado, encontrar os mestres-espíritos, animais de poder, a alma de teus ancestrais e a alma de todos aqueles que te precederam na senda da vida. O espírito do homem é um abismo de pura luz, que se estende além do corpo infinito e que atravessa o tempo."
-*-
"O espírito que contempla vê a dança e os turbilhões sem fim dos mundos, as luzes e as cores que estão no começo das coisas. Tudo o que o cerca, toda a esfera infinita do espaço não está mais longe ele, mas nele, no interior dele."
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"Teu desejo é a primeira forma do poder. Numa profunda meditação, o desejo não é uma simples sensação que nasceria da contemplação de um devaneio. Ele se libera do sonho e carrega o corpo consigo. Tu deves fazer do desejo e do corpo um mesmo espírito, consciente de si mesmo, se queres que ele realmente aja."
-*-
"O poder é não raro transmitido pelos sonhos, sob a forma de visões coloridas, de palavras ou de contos que surgem das profundezas. Os sonhos de poder são facilmente reconhecidos. Eles deixam pela manhã um sentimento de poderosa nostalgia. Se estes sonhos costumam te visitar sempre, sabe que eles anunciam o nascimento de um poder.
-*-
"Aprende a respirar com lentidão, imaginando tua respiração como uma onda de luz cintilante e pura. Este exercício, conhecido pelos guerreiros Powhatans, proporciona grande energia."

Estratégia Social VIII

Natureza e arte, matéria e obra

Baltasár Gracián: Toda beleza requer ajuda. A perfeição se transforma em barbárie quando não é enobrecida pelo artifício. O artifício resgata o mau e aperfeiçoa o bom. A natureza costuma nos deixar quando mais precisamos dela; recorramos à arte. Sem ela o melhor talento é grosseiro, e, sem cultura, as qualidades ficam pela metade. Sem artifício o homem parece bruto e rude. A perfeição exige polimento.

ATENA: A essência de qualquer arte é o treinamento. Aperfeiçoamento constante é mais do que simplesmente o treinamento nos proporciona, é o que o mundo exige. Polir os talentos brutos, enobrecer as habilidades inatas pelo crivo da preparação, é o que torna os novatos líderes, e o que mantém os líderes como tais, fazendo deles eternos inovadores. Só os que possuem maestria em determinada habilidade são capazes de improvisar e criar, mantendo o universo ao redor assombrado com a constância da inovação que só o talento com a experiência podem promover.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Tradição indígena Winnebago


"O importante é estarmos conscientes de nós mesmos, de nossas relações com as coisas, com as pessoas, com as idéias. É preciso não sermos presas do jogo e aprofundarmos nossas relações e nossa percepção do mundo. Somente depois é que começa o real."

-*-

"Hoje temos medo de viver, medo de morrer, porque nunca vivemos no imediato. A reflexão nos afasta do centro de nós mesmos e nos arrasta para mundos ameaçadores, que causam desespero. O espírito brinca de criar o mundo, como o ator que se disfarça de fantasma, e nós trememos quando aparece diante de nós. Aprende a ver atrás das máscaras."

-*-

"A calma interior é um espaço bem real, uma rocha sólida que não é afetada pelos rumores do mundo nem pela agitação dos homens. Ela é o centro em torno do qual o universo se desloca, a origem e o fim de todas as coisas. O sábio não a utiliza para abrigar sua vida, isolando-se do mundo. Ele aí se mantém relaxado, em estado de vigília, lúcido e imóvel, como no olho do furacão."

-*-

"Alegria e amargura, prazer e tristeza moram alternadamente dentro da gente, assim como o dia e a noite, a vida e a morte. Se desejas progredir espiritualmente, considera-os como as duas margens de um rio que corre no mesmo sentido."

-*-

"A paz nunca chega de surpresa. Ela não cai do céu como a chuva. Ela vem para aqueles que a preparam."

Estratégia Social VII

Associar-se àqueles com quem pode aprender

Baltasar Gracián: Seja o convívio amigável uma escola de erudição e torne a conversação instrutiva. Faça dos amigos instrutores e combine a utilidade da aprendizagem com o gosto da conversa. Alterne a fruição com a instrução. O que você diz será recompensado com aplausos; o que ouve, com aprendizado. O que nos leva aos outros, em geral, é nossa própria conveniência; aqui ela tem um sentido maior. Os prudentes freqüentam as casas de renomados heróis que são mais palcos de heroísmo que palácios de futilidade. Alguns são notáveis pelos conhecimentos e bom senso; pelo exemplo e pelo modo de agir, são oráculos de toda grandeza. Aqueles que os cercam formam uma academia refinada de discrição e sabedoria elegantes.

ATENA: Toda associação deve trazer alguma espécie de riqueza e nem toda riqueza é financeira. Uma parceria pode ampliar o leque de habilidades de que se dispõe perante a vida e isso te amplia possibilidades. Cada ser humano tem uma perspectiva diferente da vida e conhecer bem uma pessoa que pensa de forma diversa à nossa é aumentar nossa compreensão sobre a vida e nossas possibilidades de interpretação e escolhas. A boa parceria é tão complementar quanto identitária. Buscamos identidade ao nível dos valores e variedade quando pensamos em habilidades e comportamentos.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Inversão de papéis e cultura corporativa


Homens são mais agressivos e mulheres mais emocionais - é o que diz o senso comum. Mas essa visão estereotipada dos comportamentos masculino e feminino não se confirmou num estudo sobre negociação no ambiente de trabalho, realizado por pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia.

Ao contrário, quando confrontadas com situações delicadas que simulavam o que muitas vezes acontece dentro de grandes empresas, as mulheres foram bem mais incisivas e autoritárias. Já os homens tenderam a se portar de forma mais serena e aberta à discussão. Participaram da pesquisa 190 estudantes de administração e negócios da universidade.

As conseqüências foram diferentes para cada sexo. Ao se comportar de forma mais conciliatória, os homens foram bem avaliados por seus interlocutores. Já as mulheres muito assertivas foram, em geral, vistas de forma negativa. Para os autores estes resultados devem ser levados em conta no ensino de técnicas de negociação. O estudo foi publicado na revista National and Conflict Management Research.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Estratégia Social VI

Desmentir os defeitos de seu país

Baltasár Gracián: A água absorve as boas e as más qualidades dos leitos que percorre; os homens partilham as da região em que nascem. Alguns devem mais que outros a seu país ou cidade natal, pois nasceram sob céus auspiciosos. Nenhum país, nem mesmo o mais culto, deixa de ter defeito peculiar e tais fraquezas servem de defesa ou consolo às nações vizinhas. É vitoriosa destreza corrigir ou ao menos ocultar tais falhas. Agindo assim, você será reverenciado como único entre seu povo; pois o menos esperado é o mais valorizado. Outros defeitos tem como causa a linhagem, a condição, a ocupação e a idade. Todos esses defeitos, quando coincidem num único sujeito e não se toma nenhum cuidado para preveni-los e corrigi-los, produzem um monstro insuportável.

ATENA: As eternas disputas entre a "civilizatión" francesa - os modos e costumes que se pretendiam universais e universalizantes - e a "kultur" alemã - a valorização dos costumes locais e da riqueza da história com seu "saber local" - fomentaram duas formas completamente diferentes no que concerne ao estilo e à forma de lidar com o mundo e o universo ao redor. Essas questòes já criaram richas e até guerras entre Estados. O importante dessa pequena estratégia social é perceber que ir além dos rótulos culturais é dar a si mesmo a chance de surpreender os "de fora" pela novidade e ser único e valorizado entre os "de dentro" pela singularidade. Angariar para si mesmo predicados como "surpreendente" e "único" é sempre uma ótima estratégia social

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O Morno: liderança e fluxo energético


A liderança é uma tarefa que exige alto grau de energia, tanto a energia concentrada, necessária para focarmo-nos em um projeto ou campanha específica por um longo período de tempo, quanto a energia dispersa, utilizada para lidar com vários assuntos de diferentes naturezas concomitantemente. Ao contrário do que postulavam os filósofos do liberalismo clássico, o ser humano não é uma máquina capaz de realizar trabalho em troca de parcos momentos de descanso, com jornadas de trabalho exaustivas, má alimentação e nenhum cuidado ou consideração para com seu aparato psicológico. O ser humano produz mais - esteja ele numa posição de liderança ou não - se mantiver um fluxo alto de energia para a realização das atividades diárias e esse "alto" fluxo energético depende de vários fatores, como:

1. Boa Alimentação (nutrição adequada)
2. Espaço para a manifestação e desenvolvimento de suas idéias
3. Sentir-se bem desafiado
4. Bom desacanso
5. Sentimento de pertença (familiaridade) com o trabalho
6. Envolvimento emocional com o trabalho
7. Sentir-se valorizado quando merece
8. Espaço e motivos para ampliação dos seus conhecimentos

Se buscarmos, apenas por uma questão de entendimento, divivir essas necessidades naturais do ser humano na posição de líder em formas mais fáceis de compreender, teríamos algo próximo da clássica leitura grega do ser humano sobre quatro elementos.

Sob os aspectos, digamos, "terrenos", teríamos:
1. Boa alimentação
4. Bom descanso.

O corpo é o único instrumento de que dispomos para manifestar nossa vontade no mundo real. Nossos pensamentos, projetos e idéias não são escutados, nossos sentimentos não evocam nenhuma percepção, solidariedade ou asco a não ser por vias corporais. O corpo é nossa base e é cuidando dele que podemos trabalhar todos os outros aspectos de nosso ser.

Hoje em dia ter uma boa alimentação depende muito mais de uma adequada capacidade de organização do tempo e de auto-controle do que efetivamente de "cozinhar a própria comida", algo saudável, mas verdadeiramente improvável. Conceitos como "prato colorido", "de três em três horas" e "leve antes de dormir" já são bons indícios de que a sociedade tem percebido e disseminado regras construtivas sobre alimentação.

Tanto para a alimentação como para o descanso a lógica permanece a mesma: é praticamente impossível, no ritmo de vida cotidiano, esperar efetivamente alimentar-se e descansar-se devidamente todos os dias, mas é perfeitamente possível e mesmo desejável orientar-se no sentido de "compensar" as faltas, tanto no que tange a nutrição quanto ao descanso. Virar a noite debruçado num projeto que exige nossa força de vontade, concentração e nos envolve emocionalmente é até prazerozo, mas após a entrega ou apresentação desse projeto o mais saudável a se fazer é tomar um bom chá calmante, apagar todas as luzes, tirar o telefone do gancho e deixar teu corpo te acordar.

Sob os aspectos, digamos "aquáticos", teremos:
5. Sentimento de pertença (familiaridade) com o trabalho
6. Envolvimento emocional com o trabalho

É impossível ser um líder, ser um referencial de crédito, autoridade e poder se você não se identifica com o que faz. A não ser o líder institucional, que cumpre um cargo eletivo dentro de uma estrutura sob a qual ele se submete a uma posição de liderança mais do que busca. O líder deve inspirar o ambiente ao redor e, para isso, ele deve estar inspirado. O trabalho deve ser natural para ele, como uma extensão da própria existência e do seu próprio modo de ser.

O sentimento de pertença, a familiaridade com as pessoas, o ambiente, os comportamentos propícios, os valores envolvidos naquela atividade produtiva é que vão dar a ele a real dimensão de quem é e do que faz ali. Sem isso não há o envolvimento emocional necessário para dar significado e credibilidade para o líder.

Sob os aspectos digamos, "aéreos", teríamos:
2. Espaço para a manifestação e desenvolvimento de suas idéias
8. Espaço e motivos para ampliação dos seus conhecimentos

Um trabalho realmente envolvente tem de possuir algum nível de desafio intelectual. Lidar com problemas de relacionamento de funcionários diariamente pode ser um nível de desafio interessante para alguns líderes, outros preferem organizar uma solução que minimize esse aspecto e abra espaço para novos e maiores problemas que, com certeza, surgirão.

É grande hoje em dia o número de empresas que investe na formação intelectual dos seus profissionais, pagando cursos de idiomas, faculdades, mestrados, doutorados etc. Algumas empresas chegam mesmo a criar suas próprias faculdades internas, como a Valer, da Vale. A ampliação de conhecimentos, a valorização da "prata da casa" deve ser sempre compatibilizada com o aumento do grau de desafio a que o funcionário está submetido, assim como é imprescindível que ele veja claramente a ligação entre o curso que está fazendo e o papel profissional que desempenha.

Finalmente sob os aspectos "ígneos" teríamos:
3. Sentir-se bem desafiado
7. Sentir-se valorizado quando merece

Sem desafio não há liderança pelo simples fato de que o líder não se sente motivado o suficiente para angariar recursos e desenvolver habilidades, gastar tempo e dispender energia para executar nada e, também, ninguém se sente interessado em fazer parte de um grupo que não vai de encontro a um grande e válido desafio que guarde uma recompensa valorosa.

Da mesma forma empreender uma jornada de trabalho, movimentar pessoas, idéias, relacionamentos, contatos, ferramentas e habilidades para alcançar um determinado patamar, fechar um determinado negócio ou produzir algo totalmente novo e inusitado e não ser devidamente valorizado é uma das maiores frustrações, um dos grandes motivos da proliferação de psicopatologias em profissionais de alto desempenho. É necessário que se possibilite, ao vencedor, sua devida parcela de "honra ao mérito" de ter realizado o que se propôs e que, fosse fácil ou difícil, antes não estava feito e agora está e está graças àquele que arregaçou as mangas, foi lá e fez.

A importância do equilíbrio
A noção de equilíbrio nos seres humanos é algo muito interessante e é através dela que trataremos a liderança no final deste artigo.

Aprendemos a noção de equilíbrio desde cedo, no movimento do berço, no balanço que nina o bebê e modifica seu estado de espírito, seu humor. Futuramente levamos essa idéia de equilíbrio para conceitos mais abstratos como a justiça ou a saúde. Eventualmente podemos levar essa mesma noção à observação de um quadro, no seu equilíbrio de cores etc.

Da mesma forma devemos atentar para o equilíbrio nas relações no que tange aos aspectos relacionados acima, ou seja: o fluxo de energia, do muito para o pouco, do pouco para o muito ao longo do dia, seja na alimentação, no descanso, no entender-se como parte integrante de um projeto e identificar-se com ele, no sentirmo-nos intelectualmente desafiados e no considerarmo-nos valorizados quando justo. Essas dimensões criam uma espécie de campo em que essas forças operam, nossos aspectos terrenos, aquáticos, aéreos e ígneos.

Operar o fluxo de energia dentro desse "campo de forças" do trabalho é saber, por exemplo, quando uma discussão se opera por uma questão prática, técnica, emocional ou por uma questão de ego dos envolvidos. Saber diagnosticar e agir pontualmente sobre o problema real é, enfim, não deixar se instalar o "morno", a inércia, o não-fluxo, a tão temida "zona de conforto" de que falam os especialistas em comportamento corporativo, a falta desse fluxo natural é o causador dos maiores problemas no que tange à liderança.

Texto: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA
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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Estratégia Social V

Não eclipsar o patrão

Baltasár Gracián: Toda derrota provoca ódio, e superar o chefe tanto é tolo quanto fatal. A supremacia é sempre detestada, em especial pelos superiores. O sábio deve ocultar as vantagens comuns, assim como se disfarça a beleza com um toque de desalinho. A muitos não incomoda ser superado em riqueza, caráter ou temperamento, mas ninguém, em especial um soberano, gosta que lhe excedam em inteligência. Trata-se, afinal, do maior dos atributos, e qualquer crime contra ele constitui lesa-majestade. Os soberanos querem sê-lo no que é mais importante. Os príncipes gostam de ser ajudados, mas não sobrepujados. Ao aconselhá-los, faça como se os lembrasse de algo esquecido, não como se acendesse a luz que ele é incapaz de ver. Os astros nos ensinam tal sutileza. São filhos e brilhantes, mas nunca rivalizam com o sol.

ATENA: Lidar com o ego alheio pode ser uma das tarefas mais complicadas na contemporaneidade. Muitos líderes simplesmente tem pânico a que qualquer outro indivíduo possa eclipsar suas idéias e, principalmente, sua importância. Muitas vezes têm dificuldades de compreender que o talento se lapida nos desafios e, ter um bom desafio interno, principalmente se for alguém hierarquicamente inferior a você, é uma forma poderosa de manter-se "afiado", diariamente. Numa situação em que as idéias de um colega ou funcionário venha a lhe surpreender, surpreenda a todos aproveitando aquela mesma idéia como um trampolim para ir além e não recuse imediatamente, o que daria a certeza do ego ferido e da disputa que se perde para além do objeto do trabalho.

Estratégia Social IV

Alcançar a perfeição

Baltasár Gracián: Ninguém nasce perfeito. Deve se aperfeiçoar dia a dia, tanto pessoal quanto profissionalmente, até se realizar por completo, repleto de dotes e de qualidades. Será reconhecido pelo requintado gosto, inteligência aguda, intenção clara, discernimento maduro. Alguns nunca se realizam, falta-lhes sempre alguma coisa. Outros requerem um longo tempo para se formar. O homem completo - sábio na expressão, prudente nas ações - é aceito, e até desejado para privar do seleto grupo dos discretos.

ATENA: O que se considera, aqui, como "perfeição" é o agir discreto, algo muito próximo da concepção chinesa de não-ação, oriunda da filosofia política e econômica de raiz taoísta. Seguir o fluxo das ações para apenas influenciá-lo no momento em que, simultaneamente, nós empreendamos o menor esforço possível para conseguir o maior resultado dando a menor impressão de termos influenciado no processo. É algo sublime que poucos líderes e estrategistas conseguem. Numa metáfora musical seria como o improviso no Jazz, sem que deixemos de ouvir e reconhecer, todos, a mesma música.

Estratégia Social III

Conhecimento e coragem se alternam na grandeza

Baltasar Gracián: Sendo imortais, imortalizam. Você é tanto quanto sabe, e se for sábio é capaz de tudo. Homem sem saber, mundo às escuras. Discernimento e força; olhos e mãos. Sem valor, a sabedoria é estéril.


ATENA: Conhecimento não é nada sem um eixo doador de sentido, sem uma base de sustentação para o desenvolvimento do saber criativo, da arte na criação do impensado, do surpreendente. Quando Gracián nos fala de olhos e mãos estamos às voltas com o visual e o cinestésico, com o processamento cognitivo celerado da mente e o processamento experimental vivencial do corpo, é deles que parte o discernimento e a força, motrizes da coragem que não é a ausência de medo, mas justamente uma vivência do valor, que traz a compreensão de que algo é mais valioso (ou valoroso) que o próprio medo.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Estratégia Social II


Manter o suspense

Baltasar Gracián: O êxito inesperado ganha admiração. O que é óbvio não é nem útil nem de bom gosto. Não se declarar de imediato atiça a curiosidade, em especial se a posição é importante o bastante para causar expectativas. O mistério, por sua característica arcana, provoca veneração. Mesmo ao revelar evita a franqueza total e não permite que todos venham a franquear o teu íntimo. É no silêncio cauteloso que a sensatez se refugia. As decisões, uma vez declaradas, nunca granjeiam estima e expõem a censura. Se desacertadas, estará duplamente desgraçado. Se quiser atenção e desvelo, imite a divindade.


ATENA: O segredo, muitas vezes, é a alma do negócio. Numa sociedade onde a troca de informações é quase que uma necessidade, principalmente entre o setor que mais cresce da economia, que é o de bens e serviços, manter um segredo comercial ou industrial é um grande desafio. Tenha projetos secretos. Mencione-os imediatamente antes de dizer que eles são secretos e virão à tona quando lhes for mais propício. Alguns segredos de produtos ou campanhas de sucesso estão na forma, na disposição, mais do que no conteúdo explícito dos mesmos. Outros podem estar num ingrediente secreto, numa determinada atmosfera (luminosidade, cores e odores, rituais, discursos que acompanham o produto ou serviço) que envolve a relação com o projeto. O importante é estabelecer os diferenciais perceptíveis e os diferenciais, digamos, 'subliminares'. Um dos mais sábios ditados da máfia italiana diz: "O Capo (chefe) uma parte do plano a um, outra parte a outro, todas as partes a ninguém."

Estratégia Social I

Dentro das postagens sob o título de "Estratégia Social" iremos comentar ponto a ponto algumas estratégias e táticas para o dia-a-dia, a convivência e a articulação da 'sabedoria do mundo':

Caráter e inteligência

Baltasar Gracián: São os pólos que fazem luzir os predicados. Um sem a outra é apenas meia felicidade. Não basta ser inteligente; é preciso também ter o caráter apropriado. O tolo fracassa por desconsiderar sua condição, posição, origens, amizades.

ATENA: Quando o caráter vem em primeiro lugar, não é por simples questão de ordem gramatical, uma pessoa dotada de um forte caráter e inteligência mediana pode trabalhar em conjunto, através de amizades e contatos, nas idéias e descobertas alheias, mas uma pessoa com caráter fraco ou falho dificilmente perdurará por muito tempo numa sociedade exigente e interconectada como a contemporânea. A inteligência é volátil, ágil, naturalmente curiosa, sem uma forte estruturação do caráter que a sustente sobre valores humanistas e potencializadores da convivência e do respeito mútuo seríamos simples crianças imaturas, interesseiras e hedonistas.

Areté e Timé, as características do líder


Atualmente há uma grande comoção mundial em torno da busca ou do reconhecimento da liderança. É notório a necessidade visceral que a sociedade atomizada pelo excesso de informações e pela falta de conhecimento manifesta em sua busca por um "eixo" doador de sentido às experiências cotidianas e às avalanches instantâneas de informações, dados, inovações etc.

Vivemos na era da criatividade e da velocidade, e precisamos, como sempre precisamos como espécie, dotar de sentido o universo caótico ao nosso redor. É dessa busca de sentido que nasce a necessidade social de "liderança" e é dessa necessidade de liderança que trato em pesquisas e trabalhos recentes.


As características do líder

Estive pensando, em anos trabalhando no ramo de treinamento pessoal e empresarial, sobre as características de um líder real e, observando muitos dos fenômenos psíquicos, gerenciais e culturais do ambiente gerencial e muitos dos fenômenos sociais, históricos e políticos da história da humanidade, creio que a boa liderança possa ser alicerçada em dois valores que se equilibram mutuamente. Os gregos costumavam chamar esses valores de "Areté" e "Timé", o que nós chamaríamos de "superioridade" e "honra".

A Areté, superioridade

A Areté corresponde à característica de "ser o melhor", o que nós poderíamos traduzir como "superioridade". Na Grécia Clássica havia o grupo dos "melhores" ou dos "superiores", os Aristói. Os conceitos que determinavam sua superioridade estão, hoje em dia, em desuso e não se adequam mais às nossas vivências cotidianas. Agamêmnon, por exemplo, foi o rei dos reis de seu tempo e era considerado um Aristói porque sua linhagem descendia diretamente de Zeus, o rei dos deuses do Olimpo.

Hoje em dia um Aristói poderia ser compreendido como um indivíduo que é capaz de colocar em movimento tudo o que planeja para sua vida em todos os aspectos. Seria aquele que faz aquilo a que se pretende e que é reconhecido por isso pelos que lhe importam receber tal reconhecimento.

A Areté não é algo que seja dado e sim algo que seja conquistado e conscientemente procurado. A principal característica da formação de um Aristói é a disciplina, através da qual ele organiza sua vida e sua constante preparação e trabalho para a busca do mérito, prêmio mais importante a que almeja, o merecimento pelas glórias alcançadas.

Timé, a honra

A pensarmos na superioridade pura e simples, poderíamos viver num mundo de pequenos déspotas ou, hoje em dia, de pequenos senhores que ministrariam suas "carteiradas" a torto e a direito à espera de que sua superioridade seja mais válida que a de outrem. Seria a lei do mais forte, o homem como lobo do homem como temia o filósofo inglês Thomas Hobbes.

É necessário que haja algum equilíbrio, algum valor que se interponha e se sobreponha às diversas "superioridades" e as conclame para além dos conflitos inevitáveis. Os gregos perceberam isso e então interpuseram o conceito de "Timé" (honra) entre os detentores de superioridade (areté), a honra garantiria que todos se submetessem a uma mesma justiça, por exemplo, ou que acordos firmados entre eles deveriam ser respeitados sob pena de perda dessa mesma honra, o que acarretaria em desgraça social, ostracismo e perda de status. Até o famoso oráculo da cidade grega de Delfos, na Grécia, que era o centro de referência para as grandes discórdias e contendas, assim como das dúvidas existenciais, continha na sua fachada mensagens que buscavam conter o abuso do poder dos Aristói: Gnoti Sáuton, o famoso "Conhece-te a ti mesmo" que se referia não só a quem se é, mas aos seus predescessores e sucessores à sua linha familiar e também o Métron Ágan "nada além da justa medida" que era um lembrete para que nunca atravessemos o limiar de nossa honra ou da justa medida nos nossos atos.

A Timé nas empresas
O desenvolvimento da Timé se observa hoje na cultura empresarial quando percebemos o crescimento das preocupações concernentes à:
. Responsabilidade social
. Responsabilidade ambiental
. Disciplina financeira

Sem essas observações em relação à Timé a maior parte das indústrias mundiais, das grandes corporações aos pequenos empreendimentos simplesmente não tem defesas contra, por exemplo, uma campanha negativa veiculada por redes sociais. Sem contar que temos vivido a tendência do "just-in-time", da lógica de produção clara e objetiva, da preocupação objetiva e meritória com o nosso planeta, nossa saúde, nossa liquidez e acompanhamento claro e objetivo dos nossos investimentos (sejam em relacionamentos, aprendizado ou financeiros mesmo). A preocupação com a honra de uma empresa, com sua imagem social, com sua colaboração ao universo no qual está inserida dentro de sua cadeia produtiva e (para as maiores) dentro do planeta, é um imperativo lógico para os que pensam seus negócios de forma estratégica e sustentável.

No nosso contexto as palavras "estratégia" e "sustentabilidade" acabam virando sinônimos empresariais de Areté e Timé, da nossa superioridade e da nossa honra.

Texto: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA
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