segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Estratégia Social XXX

Saber esquivar-se

Baltasar Grácian: Uma das maiores regras da vida consiste em saber negar, e é ainda mais importante recusar tanto certas tarefas quanto aos outros. Existem certas atividades inconvenientes - traças do tempo precioso -, e ocupar-se com o descabido é pior do que não fazer nada. Para o ser prudente, não basta não se intrometer nos assuntos alheios. É preciso, também, impedir os outros de se intrometerem nos seus. Não se dê aos outros a ponto de não poder mais se dar a si mesmo. Não abuse de seus amigos, nem lhes peça mais do que concederiam por si. Todo excesso constitui um vício, principalmente no trato com os outros. Com esta prudente moderação, você permanecerá nas boas graças dos outros e conservará seu preciosíssimo respeito. Mantenha, pois, a liberdade de escolher aquilo que prefere e nunca atente contra o seu próprio bom gosto.

ATENA: Em épocas de aceleração do processo de aceleração da vida, onde a medida da velocidade já perdeu seu sentido e mais e mais recursos são dispendidos para nos educar a que acreditemos que o público e o privado não são diferentes, saber usar o tempo e fazer os cortes necessários para preservarmo-nos é essencial. Redes sociais, relações pessoais e laborais vão até onde permitimos que elas cheguem. O uso do nosso tempo é prerrogativa da nossa consciência e autonomia. Saber esquivar-se é saber, em última instância, mover-se em direção ao que se quer, em prol de uma meta autônoma, conscientemente estabelecida e dotada de valor para si. É claro que a meta deve se pautar pela lógica de que vivemos em uma sociedade com leis, valores e normas, imersos numa cultura e em uma comunidade, mas ater-nos apenas a esses predicados é fugir - talvez sob o doce peso de uma máscara de altruísmo - às responsabilidades individuais de nossa existência, ao desenvolvimento do nosso caráter e à valorização de si mesmo, do seu tempo e espaço.

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