terça-feira, 17 de agosto de 2010

Estratégia Social IX

Agir com intenções: seja segunda ou primeira

Baltasár Gracián: A vida do homem consiste numa milícia contra a malícia do homem. A astúcia luta com estratégias de intenção. Nunca faz o que indica. Aponta para enganar, golpeia indiferente no ar e desfere o golpe, atuando sobre a realidade imprevista com dissimulação atenta. A fim de consquistar a atenção e a confiança dos outros, deixa transparecer um intento. Logo em seguida, porém, muda de posição e vence pela surpresa. A inteligência perspicaz previne-se da astúcia observando-a detidamente, espreita-a com cuidado, entende o oposto do que a astúcia quis que compreendesse e percebe de imediato as falsas intenções. A inteligência ignora a primeira intenção, aguardando a segunda, e até a terceira. A simulação cresce mais ainda ao ver seu truque descoberto e tenta enganar contando a verdade. Muda de jogo, engana com sua aparente falta de malícia. sua astúcia se baseia na maior franqueza. Mas a observação se adianta, discernindo através de tudo isso, percebendo as sombras envoltas em luz. Decifra a intenção, que mais parece singela. Assim é a astúcia da serpente Píton contra a franqueza dos penetrantes raios de Apolo.

ATENA: A disputa de malícias e inteligências faz parte do caldeirão de forças que se comungam quando colocamos seres humanos em contato. Todos temos nossos interesses e interesses são normais, inerentes à espécie humana. Quando um deseja conforto e precaução para a família outro deseja salvar a própria pele ou a própria honra mesmo sem considerar o que fosse mais justo para os demais. Nada disso impede que muitos lutem pela seriedade ou clareza nos processos administrativos, sejam públicos, sejam privados, ou pela vida de expécies em extinção. Apenas é necessário, nesse jogo, procurar as astúcias mais danosas ao coletivo e limitar seu raio de ação para que não venham a prejudicar o todo em salvaguarda de poucas partes. Perceber que a malícia vai usar do seu último recurso - falar a verdade - como artifício para manter-se de pé, é saber o momento exato em que ela pode ser exposta e, se necessário, aniquilada.

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