quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Pensamento Estratégico e Gestão


(Adaptado do texto introdutório do curso "Estratégia em Ação - Módulo Básico")
Um dos motivos que me levou a desenvolver o Instituto Atena foi o grande prazer que tenho em aprender. Aprender em todos os sentidos, vivendo e conversando, ouvindo, vendo e lendo. Jamais tomando uma interpretação como "final", mas como válida para aquele momento. Não consigo consider “teoria” um palavrão, nem poderia me desculpar por fazer dela um componente importante de meus treinamentos. Existe uma tendência geral – estrategicamente difundida, afinal, “conhecimento é poder”, já dizia Thomas Hobbes, clássico da política – de crer que ser teórico é ser desligado da realidade, desprovido de senso prático, “alienado”. Vender a fórmula de que o agir é precursor do pensar é rentável e existem empresas, editoras e profissionais que vivem disso.
Um brilhante cientista social disse uma vez: “Nada é tão prático como uma boa teoria”. Se pensarmos bem, todos os médicos, engenheiros e físicos bem sucedidos têm que concordar: seriam incapazes de praticar seu trabalho moderno sem as teorias. Não há dúvida: o melhor dos trabalhos, aquele que rompe barreiras e atinge o que até então parecia impossível, só se faz “sobre os ombros de gigantes”.

A Teoria e o dia-a-dia


Em
PNL temos a clara compreensão de que as teorias são úteis porque reduzem drasticamente a necessidade de armazenar grandes massas de dados individuais. Ninguém “levanta da cama, vai ao banheiro, desenrosca a tampa da pasta de dentes, põe pasta na escova, escova os dentes, toma uma ducha ou lava o rosto, vai até a cozinha, corta as laranjas, liga o espremedor na tomada...”, nós simplesmente “vamos ao banheiro” e “fazemos o café”. O resto está implícito.
Somos seres carregados de teorias intrínsecas. Nosso comportamento é guiado por sistemas de idéias que vamos internalizando (e, muitas vezes, cristalizando!) com o correr dos anos. Muito pode ser apreendido sobre nós mesmos, e os sistemas de valores que estruturam nossas atitudes, colocando isso “pra fora”, examinando cuidadosa e minuciosamente nossas escolhas e comportamentos triviais e comparando com formas alternativas de ver o mundo. Essa é uma das primeiras e mais importantes práticas que vivenciamos em nossos cursos.
“Sobre aqueles que proíbem alguém de estudar nos livros de filosofia, por acreditarem que alguns homens de pouco valor incidiram no erro por tê-los estudado, dizemos que se assemelham a quem porventura proibisse uma pessoa sedenta de beber água fresca e boa, deixando-a morrer de sede, argumentando que há quem morra afogado na água.”
Ibn Ruchd Averróis

O problema da “malícia inocente”
Em primeiro lugar, se pretendemos realmente ser estrategistas em nossas vidas, empresas ou projetos, precisamos urgentemente perder um pouco do que chamaremos de “malícia inocente”. A “malícia inocente” é a noção pueril (infantil) de que existe uma e apenas uma resposta, sistema ou forma de encarar o mundo que é válida, eficiente, eficaz e funcional. O caso crônico (grave) da “malícia inocente” é a crença arraigada de que alguém vai transformar essa solução milagrosa para os problemas da humanidade em um sistema, criar um livro e nos vender (geralmente até em promoção! Veja você!).
Isso é muito bom para criar campanhas de marketing – transformar determinado produto, livro ou idéia em algo completamente absoluto e indispensável -, mas em estratégia é um erro básico. Apoiar-se em uma única fórmula de ver o mundo: teoria dos jogos, teoria dos sistemas, física quântica, administração clássica, hipercompetitividade a qualquer custo, o que for, além de privar a todos nós da riqueza e variedade da realidade – que sempre está além de todas as teorias -, vai tornar-nos dependentes dessa visão que, uma vez derrotada, nos levará imediatamente ao desespero, perda de referenciais, estresse, desilusão, perdas financeiras e por aí vai, descendo a ladeira, como bola de neve em desenho animado.

Eficácia Operacional e Estratégia
Outro erro clássico é confundir Eficácia Operacional (EO) com Estratégia. Atualmente temos uma avalanche de técnicas e processos gerenciais que, num ambiente de hipercompetitividade, leva várias empresas a, na busca por nunca se verem “atrás” de seus concorrentes, tornarem-se todas idênticas, copiando os mesmos processos de gerenciamento a fim de obter os mesmos resultados.

Esse tipo de concorrência, baseada em eficácia operacional, é mutuamente destrutiva, gerando atritos que somente podem ser detidos pela eliminação da concorrência. Afinal, o foco acaba sendo o concorrente e não mais o seu negócio especificamente. Todo esse quadro – infelizmente muito comum – gera a constante pressão por desempenho que, unida à falta de visão estratégica (que estudaremos, treinaremos e desenvolveremos ao longo de todo
esse curso), impede que muitas empresas tenham qualquer idéia melhor do que a de comprar suas rivais. A fusão torna-se assim uma forma de eliminação de concorrentes, mostrando que o foco principal não estava numa estratégia orientada para uma vantagem competitiva, mas sim no “problema” que o rival representava ou poderia vir a representar num futuro próximo.

Definições e ilusões
Na definição de Michael E. Porter*: “Estratégia é a criação de uma posição de valor e única, envolvendo um conjunto de atividades diferentes. Se houvesse apenas uma posição ideal, não haveria necessidade de estratégia.”

No caso de haver apenas uma “posição ideal”, teríamos apenas que seguir alguns ajustes operacionais para nos adequarmos à melhor forma de atingir determinado objetivo fixo. Um bom exemplo disso está em personificarmos e endeusarmos uma instituição flexível, maleável e de altíssima rotatividade a fim de tentarmos rotulá-la para seguirmos passos que nos levariam a esses rótulos: perfeita, estável, livre, infalível, inevitável. Soa familiar? É o que os jornais, revistas e muitos livros fazem com o Todo-Poderoso “Mercado”, nosso Demiurgo – deus criador da realidade - contemporâneo, que ora acorda de mal-humor, depressivo, eufórico, tenso e por aí vai.

Como o exemplo acima demonstra, a concorrência dentro de um sistema complexo (sociedade, mercado, valores, cultura, família) não é um campeonato de futebol em que exista somente um “campeão” e, conseqüentemente uma meta ou um objetivo a alcançar. Nosso mundo – graças a Deus! - é mais complexo que isso e boa parte dessa noção de que tudo se resume à eficácia operacional é uma estratégia deliberada dos que pensam estrategicamente e, conseqüentemente, tendem a estar sempre à frente.

“A” Verdade Absoluta! (e as mentirinhas que a sustentam)
Não há uma melhor maneira em administração, como em ciência política, como em economia; em quase nenhuma área das ciências humanas – e, creia, na maior parte das exatas também! – há uma fórmula absoluta que funcione para todas as organizações e dentro dos mais variáveis contextos. Mesmo quando uma “receita de bolo”, um padrão ou teoria parecem eficazes dentro de um determinado contexto, elas exigem um entendimento sofisticado de qual é o determinado contexto e de como ele funciona. A mesma tentativa de solução, para o mesmo problema, no mesmo grupo em dias diferentes, pode ter resultados completamente opostos. Experimentem exercitar a motivação de seus funcionários ao trabalho no primeiro dia de trabalho do ano e no último dia antes das férias!
“Não recebemos a sabedoria.
Precisamos descobri-la,
Depois de um trajeto
Que ninguém pode fazer por nós,
De que ninguém pode nos poupar.”
Marcel Proust
Renato Kress
Diretor do Instituto Atena
Conheça o Curso que deu origem a esse artigo:
Estratégia em Ação – Módulo básico

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