sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Meta, foco, direcionamento de energia e resultado

Culturalmente dispersamos nossa atenção sobre desejos materiais, comerciais, projetando nossa mente para o passado morto e para o futuro incerto ao invés de concentrarmos nossa energia, pensamento e foco sobre nossas metas. Depois de algum tempo nesse círculo vicioso percebemos o vazio de não vivermos nosso próprio presente, nossa própria jornada.

Por isso o pensamento oriental, especificamente o pensamento do Zen Rinzai, tem sido cada vez mais divulgado no ocidente, seja através de pensadores ocidentais como o Dr. Eckhardt Tolle ou orientais como Osho.

A seguir um conjunto de citações de origem oriental sobre foco, meta e energia direcionada.

Frases de Dugpa Rimpoche, Monge budista de Nagarkot, fronteira com o Tibete

"Concentra teu espírito sobre uma coisa de cada vez, evita a dispersão. Reúna tua vontade numa cabeça de alfinete, e atravessarás o obstáculo."

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"Tú és o teu próprio adversário, a repetida causa dos teus fracassos. há em ti um mundo obscuro que ainda não conheces. Enfrenta-o com armas luminosas."

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"Não desvies nunca a cabeça em face do obstáculo. Desarma-o pela paciência e pela alegria."

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"Deves tornar visível o objetivo que queres atingir, como uma mandala durante uma meditação. Aprende a amar o bom êxito. Faze com que ele brilhe acima de teus atos, como um sol, uma bela luz. Somente então ele se dará a ti."

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"A chance sempre aparece para aquele que a deseja. Nunca subestimes teus sonhos. Deves fazer um pacto com eles, pois são a fonte e a força inesgotáveis que te permitirão vencer. Atrás do obstáculo surge uma liberdade inteiramente nova, um horizonte mais vasto."

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"Não há passado nem futuro. O que fazes, tu o fazes sempre aqui e agora. O instante é o único lugar da experiência onde a vida pode ser apreendida, experimentada, sentida. O passado e o futuro pertencem à fantasmagoria e são tão importantes quanto os fumos do nevoeiro. Aprende a agir a partir do presente, se quiseres mudar a vida."

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"Sê pleno agora. Não há outro lugar ou tempo para isso."

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"Tudo começa hoje."


Frases: Dugpa Rimpoche

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Estratégia Social XXXIII

Avaliar a sorte

Baltasar Gracián: Para poder agir e para se empenhar. É bobagem alguém de quarenta anos pedir saúde a Hipócrates e bobagem ainda maior pedir prudência a Sêneca. Reger a sorte é uma arte, seja esperando - pois ela às vezes não se apressa -, seja aproveitando-se dela quando é oportuna, embora nunca vá entender totalmente o seu proceder bizarro. Se a sorte o tem favorecido, prossiga com ousadia, uma vez que ela adora os ousados e, como uma mulher deslumbrante, os jovens. Se é um azarado, abstenha-se de agir. Retire-se e evite de falhar duas vezes. Se a dominou, você deu um grande passo à frente.

ATENA: Antes de qualquer empreitada há que se observar o quadro geral das questões periféricas envolvidas. Observe as circunstâncias ao redor e dentro. Aos otimistas é tão comum tomar decisões ou traçar metas observando apenas uma parte dos fatores, seja externa (bom momento no mercado, "bolhas" e "booms", circunstâncias estruturais facilitadoras, promoções etc) ou interna (boa saúde, disposição, entusiasmo), quanto aos pessimistas. A diferença está, sempre, no foco e o problema, sempre, no excesso. O otimista inveterado se joga do penhasco sem ver as pedras no fundo das águas, o pessimista crônico pode não sair do lugar por nada. Avaliar a sorte é observar a vida de forma sistêmica, integrada. Muito mais um exercício complexo do que uma simples idéia.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Estratégia Social XXXII

Considerar as questões com cuidado

Baltasar Gracián: E refletir mais sobre aquelas que mais importam. Os tolos se perdem por não pensar. Nunca enxergam nem a metade das coisas, e, por não perceberem nem suas vantagens nem seu prejuízo, empregam mal o seu esforço. Alguns ponderam às avessas, prestando muita atenção ao que importa pouco, e pouca atenção ao que importa muito. Muitos nunca perdem a cabeça por não terem cabeça para perder. Há certas coisas que devemos considerar com todo cuidado e manter nas profundezas da mente. Os sábios analisam tudo: mergulham nos temas profundos ou duvidosos, às vezes cogitando que há mais do que lhes ocorre. Fazem com que a reflexão avance além da percepção.

ATENA: Estar à frente dos fatos é inteirar-se das forças aparentes e ocultas que operam nos processos em que estes fatos se desencadeiam. Surpreende-se quem observa os fatos, compreende e se prepara quem observa os processos que dão luz aos fatos. Analisar as forças é compreender os agentes dos processos, suas motivações, seus interesses e metas. Essas considerações atualmente podem ser perdidas em meio a uma enxurrada indiscriminada de fatos e notícias aparemente desconexos e estrategicamente (des)orientados para que não percebamos os padrões, grupos e interesses subjacentes.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Estratégia Social XXXI

Conhecer seu principal atributo

Baltasar Gracián: Seu dom de destaque. Cultive-o e incentive os demais. todos alcançariam a excelência em alguma coisa se conhecessem sua qualidade dominante. Identifique o rei dos seus atributos e se dedique a ele com afinco. Alguns se destacam no discernimento, e outros, na coragem. Os demais violentam a sua aptidão e não alcançam a superioridade em nada. Deixam-se cegar e lisonjear pelas paixões até que - tarde demais! - o tempo as desminta.

ATENA:  O que melhor te definiria? O corajoso, o inventivo, o paciente, o concentrado, o empreendedor, o visionário, o crítico? É sempre útil observar onde teu talento melhor se manifesta. Observe teus passos e conquistas mais valiosas, esteja atento às pessoas e àquilo que geralmente procuram quando chegam até você. Com certeza eles te dirão onde é que você se destaca. Cultive esse destaque, valorize seu talento, aprimore o que a natureza te deu sem deixar de lado as demais habilidades correlatas àquele talento. Procure, acima de tudo, tornar-se um mestre no seu talento e um gênio na arte de aproveitar as demais habilidades que envolvam projetar esse mesmo talento.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Religião e Espiritualidade

Texto de autoria desconhecida.




A religião não é apenas uma, são centenas.
A espiritualidade é apenas uma.
A religião é para os que dormem.
A espiritualidade é para os que estão despertos.

A religião é para aqueles que necessitam que alguém lhes diga o que fazer, querem ser guiados.
A espiritualidade é para os que prestam atenção à sua Voz Interior.
A religião tem um conjunto de regras dogmáticas.
A espiritualidade te convida a raciocinar sobre tudo, a questionar tudo.

A religião ameaça e amedronta.
A espiritualidade lhe dá Paz Interior.
A religião fala de pecado e de culpa.
A espiritualidade lhe diz: “aprende com o erro”.

A religião reprime tudo, te faz falso.
A espiritualidade transcende tudo, te faz verdadeiro!
A religião não é Deus.
A espiritualidade é Tudo e portanto é Deus.

A religião inventa.
A espiritualidade descobre.
A religião não indaga nem questiona.
A espiritualidade questiona tudo.

A religião é humana, é uma organização com regras.
A espiritualidade é Divina, sem regras.
A religião é causa de divisões.
A espiritualidade é causa de União.

A religião lhe busca para que acredite.
A espiritualidade você tem que buscá-la.
A religião segue os preceitos de um livro sagrado.
A espiritualidade busca o sagrado em todos os livros.

A religião se alimenta do medo.
A espiritualidade se alimenta na Confiança e na Fé.
A religião faz viver no pensamento.
A espiritualidade faz Viver na Consciência.

A religião se ocupa com fazer.
A espiritualidade se ocupa com Ser.
A religião alimenta o ego.
A espiritualide nos faz Transcender.

A religião nos faz renunciar ao mundo.
A espiritualidade nos faz viver em Deus, não renunciar a Ele.
A religião é adoração.
A espiritualidade é Meditação.

A religião sonha com a glória e com o paraíso.
A espiritualidade nos faz viver a glória e o paraíso aqui e agora.
A religião vive no passado e no futuro.
A espiritualidade vive no presente.

A religião enclausura nossa memória.
A espiritualidade liberta nossa Consciência.
A religião crê na vida eterna.
A espiritualidade nos faz consciente da vida eterna.

A religião promete para depois da morte.
A espiritualidade é encontrar Deus em Nosso Interior durante a vida. 


(Texto tirado da internet, sem autor)

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Estratégia Social XXX

Saber esquivar-se

Baltasar Grácian: Uma das maiores regras da vida consiste em saber negar, e é ainda mais importante recusar tanto certas tarefas quanto aos outros. Existem certas atividades inconvenientes - traças do tempo precioso -, e ocupar-se com o descabido é pior do que não fazer nada. Para o ser prudente, não basta não se intrometer nos assuntos alheios. É preciso, também, impedir os outros de se intrometerem nos seus. Não se dê aos outros a ponto de não poder mais se dar a si mesmo. Não abuse de seus amigos, nem lhes peça mais do que concederiam por si. Todo excesso constitui um vício, principalmente no trato com os outros. Com esta prudente moderação, você permanecerá nas boas graças dos outros e conservará seu preciosíssimo respeito. Mantenha, pois, a liberdade de escolher aquilo que prefere e nunca atente contra o seu próprio bom gosto.

ATENA: Em épocas de aceleração do processo de aceleração da vida, onde a medida da velocidade já perdeu seu sentido e mais e mais recursos são dispendidos para nos educar a que acreditemos que o público e o privado não são diferentes, saber usar o tempo e fazer os cortes necessários para preservarmo-nos é essencial. Redes sociais, relações pessoais e laborais vão até onde permitimos que elas cheguem. O uso do nosso tempo é prerrogativa da nossa consciência e autonomia. Saber esquivar-se é saber, em última instância, mover-se em direção ao que se quer, em prol de uma meta autônoma, conscientemente estabelecida e dotada de valor para si. É claro que a meta deve se pautar pela lógica de que vivemos em uma sociedade com leis, valores e normas, imersos numa cultura e em uma comunidade, mas ater-nos apenas a esses predicados é fugir - talvez sob o doce peso de uma máscara de altruísmo - às responsabilidades individuais de nossa existência, ao desenvolvimento do nosso caráter e à valorização de si mesmo, do seu tempo e espaço.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Estratégia Social XXIX

Tornar-se conhecido por agradar aos outros

Baltasar Grácian: Especialmente se são seus subalternos. É útil aos soberanos obter as boas graças de todos. A única vantagem do poder: poder fazer o bem mais do que qualquer outro. Aqueles que são amigos fazem amizades. Outros, ao contrário, decidem ser desatenciosos, não porque é trabalhoso, mas só por maldade. Opondo-se em tudo à divina comunicabilidade.

ATENA: Toda troca direta, sem o intermédio financeiro possui em si um caráter mais íntimista, mais pessoal. Quando fazemos somos atenciosos às requisições, desejos e necessidades do próximo abrimos caminho a que ele também o seja das nossas, que se sinta bem em poder retribuir de forma equânime. A amizade e as boas trocas que daí se efetuam formam a cadeia do "capital social" necessário como "ás" na manga em muitos momentos da vida.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Estratégia Social XXVII

Conhecer os afortunados a fim de escolhê-los e os desafortunados, a fim de evitá-los

Baltasar Grácian: A infelicidade costuma ser apanágio da estupidez, e entre os párias nada é tão contagioso. Nunca abra a porta para o menor dos males, pois muitos outros, maiores, espreitam lá fora. O segredo do jogo é saber descartar. A pior carta do trunfo da mão é mais importante do que a melhor carta da mão perdedora que você acabou de apostar. Na dúvida, é bom se acercar do sábios e dos prudentes. Mais cedo ou mais tarde eles encontrarão a ventura.

ATENA: Aproximar-se dos sábios nos leva, direta ou indiretamente, a nos assemelharmos a eles. O mesmo ocorre quando nos aproximamos de qualquer outro grupo social. Os "líderes" (seja como for que se meça esse tipo de denominação tão comum hoje em dia) aprendem uns com os outros, direta ou indiretamente, da mesma forma os pró-ativos tendem a trabalhar e a se sentir melhores entre os seus pares. A convivência gera uma atmosfera, facilita a troca de conhecimentos, informações, experiências. Isso é uma experiência válida de "networking". Em termos econômicos podemos estar pensando em acumular "capital social" (Bourdieu), com a diferença que a "valia" desse capital depende diretamente da nossa habilidade em observar o senso de oportunidade, ou seja, o onde, como e quando esse "capital" deve ser operacionalizado. A experiência de vida nos dá isso, mas se pudermos observar cautelosamente quem já bem o faz, podemos chegar aos mesmos resultados e até ir além deles mais cedo e melhor que nossos "modelos".

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Budismo e contracorrente cultural


Atualmente o budismo tem sido uma das religiões (ou filosofia espiritualista ou filosofia religiosa, dependendo da concepção que podemos ter do conceito) que mais cresçem entre empresários e homens de negócios, por vários motivos.

Meditação contra mídia
Como estudioso das religiões me vêm à mente a questão de que a filosofia de vida Budista efetivamente serve como um contraponto poderoso frente aos inumeráveis estímulos sensoriais da nossa sociedade contemporânea. Se vivemos submersos em estímulos que nos dizem que teremos mais status, seremos mais viris, mais jovens, mais poderosos, bem sucedidos e pró-ativos se deixarmos nossa atenção se dispersar por entre os inúmeros anúncios para compras de panelas, celulares, cursos, livros, roupas, perfumes, revistas etc, o budismo nos traz à realidade e nos possibilita viver o agora, fruir o momento sem projetarmos nossa existência no passado (imutável) ou no futuro (fonte de anseios, angústias, medos, pressões).

Deixo aqui algumas frases valiosíssimas do budismo tibetano para o nosso dia a dia:


"Não há passado nem futuro. O que fazes, tu o fazes sempre aqui e agora. O instante é o único lugar da experiência onde a vida pode ser apreendida, experimentada, sentida. O passado e o futuro pertencem à fantasmagoria e são tão inconsistentes quanto os fumos do nevoeiro. Aprende a agir a partir do instante, se queres mudar o fluxo da vida."


"O instante não tem limite.  se pudéssemos vivê-lo plenamente saberíamos o que é a eternidade, pois o presente é eterno"


"Nós viemos daqui e este aqui nunca saiu do lugar"


"Representamos (os tibetanos) o instante como um vazio rodopiante, no centro da roda da vida e da morte. é o cubo da roda. Esse estado de ser nunca desaparece. Ele é a permanência, o fundamento, e, no entanto, ele funciona sem cessar, sem jamais alterar sua imobilidade radiante."


"Aprende a agarrar o instante. Não te furtes, Não fujas para a fantasmagoria do passado ou do futuro. Concentra teu espírito, onde estiveres, com uma consciência acurada do instante. Ele se acha onde nós nos achamos. Não há outro lugar senão aqui."


"Liberta-te do passado e do futuro, mas presta atenção ao instante que passa. Somente ele é real. Todo o mais é ilusão."


"Quantos anos gastaste refugiando-te em vão devaneios? A felicidade não espera. Ela se dá aqui e agora. Não há outro lugar ou tempo."


"Para agarrar o instante que passa, basta abrir o coração"

Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA
www.institutoatena.com

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Estratégia Social XXVI

Não se dedicar a coisa sem reputação

Baltasar Grácian: Muito menos às quiméricas, que trazem mais desprezo que estima. O capricho fundou muitas seitas e o sensato deve fugir de todas elas. Há gostos extravagantes que abraçam tudo o que os sábios repudiam. Satisfazem-se com todo o tipo de singularidades e, embora isso os torne conhecidos, obtêm com mais frequência, o riso que o respeito. Mesmo a buscar a sabedoria, os prudentes devem evitar a afetação e a atenção pública, em especial nas questões em que podem se expor ao ridículo. Também, de nada adianta nomear tais questões. O desprezo geral já conhece todas.

ATENA: Quando temos uma meta em mente devemos sempre observar dois fatos singularmente importantes: primeiro devemos considerar que na atual velocidade das mudanças na contemporaneidade o tempo nem sempre é vasto, sendo em geral escasso para o cumprimento da tarefa à qual nos propusemos e, em segundo lugar, ao fato de que a meta é um marco, um pólo segundo o qual todas as demais tarefas podem ser consideradas "funcionais" ou "disfuncionais" à medida em que, respectivamente, nos aproxima ou afasta daquela proposta de destino escolhida. Nessa perspectiva podemos compreender a "coisa sem reputação" de Gracián como uma coisa "disfuncional", que ou nos afasta da meta proposta ou, na melhor das hipóteses, nos faz perder tempo e, consequentemente, oportunidades.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Estratégia Social XXV

Integridade e firmeza

Baltasar Grácian: Esteja sempre do lado da razão, e com tal firmeza de propósito que nem a paixão comum, nem a tirania o desviem dela. Mas onde estará essa Fênix de eqüidade? Poucos cultivam a integridade. Muitos a louvam, mas poucos a visitam. Alguns a seguem até que a situação se torne perigosa. Em perigo, os falsos a renegam e os políticos a simulam. Ela não teme contrariar a amizade, o poder e mesmo o seu próprio bem, e é nessa hora que é repudiada. Os astutos elaboram sofismos sutis e falam de louváveis motivos superiores ou de razões de Estado. Mas o homem realmente leal considera dissimulação uma espécie de traição e preza mais ser firme do que o ser sagaz e se encontra sempre do lado da verdade. Se diverge dos outros, não é devido à sua inconstância, mas porque os outros abandonaram a verdade.

ATENA: Nossa sociedade vive refém do medo. Medo de não sermos suficientemente capazes, líderes, eficazes, eficientes, pró-ativos, bem arrumados, antenados com as tendências da moda, da tecnologia, das notícias. Nesse tipo de sociedade somente um homem íntegro e maduro pode sobreviver sem fragmentar sua percepção do mundo, de si mesmo e dos outros. O sistema sobo  qual vivemos exige que sejamos todos imaturos, emocionalmente, psiquicamente, afetivamente... afinal, só um homem muito imaturo enquanto indivíduo acredita que possa sempre estar carente de algo para ser feliz, pleno, completo, e só um homem que se encontre eternamente carente consegue consumir eternamente pequenos remédios para essa carência difusa, dispersa sob a qual vivemos. O homem íntegro é aquele que não se rende senão a si mesmo, e cujos valores se originam de dentro, uma jornada de que só os verdadeiramente corajosos são capazes.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Estratégia Social XXIV

Não ser vulgar em nada

Baltasar Grácian: sobretudo no gosto. Sábio é aquele que fica descontente quando suas coisas agradam a muitos! As pessoas sensatas nunca se satisfazem com aplausos comuns. Alguns são tão camaleões da popularidade que preferem o sopro vulgar da multidão do que as suavíssimas brisas de Apolo.Também não seja vulgar no discernimento. Não aprecie os milagres do vulgo, pois não passam de charlatanismo. A multidão se encanta com a tolice e não presta qualquer atenção a um bom conselho.

ATENA: Importante saber ser elegante, o que não quer dizer arrogante ou petulante, muito pelo contrário. Quando se é elegante sabe-se que o apreço correto virá e virá também das pessoas corretas. A educação e a cordialidade no trato, o trabalho sensível e enxuto na forma e a profusão de conhecimentos no conteúdo são o que verdadeiramente fazem a diferença entre aqueles de bom gosto. Na sociedade massificada e atomizada contemporânea, quase não temos tempo para determinados cuidados, com nosso modo de ser, com nosso modo de agir e trabalhar, mas é inegável que observamos e admiramos quando alguém os têm. Admiração galga respeito e interesse. Por que não cultivar um pouco para nós mesmos?

English:
Important to know how to be elegant, which is not to say arrogant or cocky, quite the contrary. When we are elegant it is known that the correct appreciation will come and will also come from the right people. Education and cordiality in treatment, work and sensitive manners and lightness on the shape of knowledge in the content are what truly make the difference between those with good taste. In contemporary society, atomised and massified, we hardly have time for particular care with our ways, with how we act and work, but it is undeniable that we watch and admire someone when they have them. Admiration brings respect and interest. Why not grow a little for ourselves?

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A importância de criar o caminho

Você já se interessou por budismo, kung-fu, yoga ou meditação zen? Já quis ler "A Arte da Guerra" de Sun Tzu ou o "Tao de Ching" de Lao Tsé? Cada vez mais entramos em contato com tradições alheias à nossa raiz ocidental, talvez por um desgaste de nossas interpretações sobre nós mesmos, talvez por uma necessidade de complementaridade simbólica entre ocidente e oriente, às vezes por uma fuga da atmosfera competitiva, agressiva, pró-ativa de nossa cultura contemporânea. Seja qual for o motivo de nosso interesse nas culturas de nossos irmãos do outro lado, em geral tendemos a querer enxergar neles uma pureza ou uma ancestralidade que não é real.

Novas Perspectivas
Quando nosso dia a dia nos leva a querer meditar, fazer yoga, aprender técnicas de controle respiratório para um melhor circulação do "prana" ou ampliar a percepção do nosso "ki ou chi" através de artes marciais percebemos que estamos indo em direção a um caminho já traçado anteriormente e nos interessamos por outras culturas, outras concepções de um mundo visto por outros olhos.

Fascínio
Em especial fascinam a nós, ocidentais, as derivadas do extremo oriente - Índia, China e Japão - e então temos a impressão de estarmos falando de "tradições espirituais" ou "conhecimentos milenares" de uma forma mais "pura", como se elas nos chegassem diretamente, sem as intervenções e modificações que fazem a nós, ocidentais, perdermos algum contato com o que chamaríamos de "raizes".

Cada vez mais nos voltamos para a leitura de obras como o "Mahabharata", a epopéia indu da batalha pelo controle do mundo, ou "O livro dos cinco anéis" do mestre espadachim japonês Miyamoto Musashi, "A arte da Guerra" do General chinês Sun Tzu, o "Tao te Ching" do filósofo chinês Lao Tsé ou os aformismos de outro filósofo chinês, Kung-fu-tsé (Confúcio). Até aí tudo bem, na verdade tudo ótimo! Ampliar nossa leitura da realidade é o que efetivamente nos faz desenvolver formas alternativas de ver e reagir ao mundo, nos torna mais criativos e surpreendentes, seja na vida pessoal ou no trabalho. O problema está em procurarmos viver caminhos que não são os nossos ao invés de integrar sabedorias milenares em nosso contexto contemporâneo.

O problema da pureza
Buda (o símbolo no peito é indu)
Ao buscarmos tradições oriundas do oriente é comum esquecermos que elas também se interligam, interpenetram e confluem. Mais comum ainda é nos esquecermos de que é justamente essa interligação e confluência que caracteriza a obra dos grandes mestres aos quais recorremos. Por exemplo, no introdução do livro dos cinco anéis Miyamoto Musashi escreve: "...Escalei a montanha Iwwato Higo, em Kyushu, para homenagear o céu, rezar para Kwannon e ajoelhar-me diante de Buda." Só nessa frase, no primeiro parágrafo de sua obra, já especifica interferências de três leituras religiosas distintas! 

1) "...homenagear ao céu..." - Homenagear ao céu significa homenagear a "Ten", divindade oriunda do Xintoísmo. Xinto -uma palavra composta pelos ideogramas "Kami" (Deus) e "Michi" (caminho) - é a antiga religião do Japão.
Kwannon (lembra alguém?)

2) "...rezar para Kwannon..." - Kwannon é a deusa da misericórdia numa leitura japonesa do budismo,  recheada de santos.

3) "...ajoelhar-me diante de Buda..." - Essa passagem já fala claramente do Budismo japonês, mais reverente à figura do Buda que o indiano, que compreende "o Buda dentro de cada um de nós".

Musashi é um grande mestre da espada e da estratégia e tinha plena consciência de que as diversas tradições espirituais ou filosóficas com as quais entrou em contato ao longo de sua vida nada mais eram do que ferramentas para que ele criasse o próprio caminho. Ele só pôde ser Musashi porque não se preocupou em ser Kwannon, Buda ou Kami. Ele é um mestre porque cria o próprio caminho e porque o vive com intensidade e honra. Se não sempre uma honra socialmente viável, ao menos uma honra interna, uma fidelidade a si mesmo.

Treinamentos culturais
Quando estudamos tradições da Índia, China e Japão dentro do curso A Arte da Guerra Oriental no Instituto ATENA estudamos com a perspectiva de criarmos nosso próprio caminho, de executar nossa jornada pessoal para que possamos buscar bases instrumentais num universo diverso do nosso. Só assim poderemos criar e obter resultados mais criativos, inovadores e eficientes. Do contrário ficaríamos presos seja nos nossos referenciais ocidentais, seja na busca por uma "essência" oriental e não deixaríamos a "energia fluir" entre esses dois pólos, como nos ensina, por exemplo, tanto o Taoísmo chinês, quanto o Phrana e a teoria do atman indianos.

Mac Iluminação
Nós ocidentais estamos, em geral, muito mal acostumados com a idéia do "ready-made" do "fast-food" e, em geral, o que nos ensinam os grandes mananciais nos quais vamos beber quando nossa sede de saber não é alimentada por nossos "pocket-books" existenciais, é que todos os caminhos estão prontos, menos o nosso. O caminho de Sun Tzu na China quinhentos anos antes de Cristo ou o de Maquiavel na Itália em 1500 depois de Cristo são caminhos que foram interessantes e úteis a seus autores (menos para o italiano que morreu pobre e sem fama do que para o venerado e rico general chinês) em suas épocas. Cabe a nós observarmos o que podemos apreender desses caminhos para a nossa vida e para o nosso contexto. O uso que se fez no ocidente do símbolo no peito da estátua de buda na figura acima, por exemplo, foi um uso de responsabilidade da mente ocidental, mas podemos fazer coisas maravilhosas e transcedentais também em nossas vidas, afinal sobre oriente e ocidente não cabem adjetivos como "melhor", "pior", "bom" ou "ruim", apenas "diferente" e, nesse caráter, enriquecedor. Só assim, operacionalizando nosso crescimento através da compreensão de perspectivas novas poderemos empreender a jornada que nenhum grande mestre de nenhum tempo pode fazer por nós.

Oriente Ocidente
A raiz dos termos "Oriente" e "Ocidente" tem a ver com o movimento do sol, nascimento e morte do dia. De fato "oriente" vem da mesma raiz que a palavra "origem", e "ocidente" vem de "ocidere" a palavra latina para "morrer". Podemos sempre deixar que nossas idéias, nossos projetos e trabalhos se banhem e nasçam em outras terras, mas não podemos deixar de observar que elas devem "morrer", encontrar seu fim, seu término, aqui, no nosso solo, no nosso contexto, na nossa vida cotidiana. Isso é criar o próprio caminho.

Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Estratégia Social XXIII

Melhor ser intensivo que extensivo

Baltasar Grácian: A perfeição não está na quantidade, mas na qualidade. As coisas muito boas sempre foram poucas e raras; a abundância traz desvalorização. Mesmo entre os homens, geralmente os gigantes são os verdadeiramente anões, alguns elogiam o livro por seu volume, como se fossem escritos para exercitar os braços, e não a cabeça. A extensão por si só nunca nos leva além da mediocridade, e a sina dos homens universais pelo desejo de tudo entenderem é não serem versados em nada. A intensidade leva à excelência, e em assuntos de grande importância é heróica.

ATENA: Existe uma harmonia que se empreende naturalmente quando nossa meta é bem definida. Quem estrutura radicalmente (a partir da raiz) sua meta, compreende em que pontos disciplinas e habilidades em outros campos do saber podem servir como instrumentos para se ampliar o espectro de visão sobre essa meta ou para acelerar a obetnção dessa meta. Quem bem conhece sua meta empreende a jornada instrumentalizando vários saberes de outras áreas, mas nunca perdendo de vista seu lugar, sua formação-base e seu foco. A partir daí a "quantidade" de habilidades diversas simplesmente converge para um único ponto. Isso é estratégia. O resto é como Gracián escreveu: "...a sina dos homens universais pelo desejo de tudo entenderem é não serem versados em nada."

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Kendô e Zen - O caminho da espada e o fluxo da vida



Extratos do texto "Arte, disciplina, vontade", do CD que integra o treinamento 'A Arte da Guerra Oriental'

"(...) O caminho da espada é o ensinamento moral dos samurais, incentivado pela filosofia confucionista, que moldou o sistema da era Tokugawa e pelo xintoísmo, religião natuva do japão. Os tribunais de guerra do japão do período Kamakura ao período Muramachi encorajavam o austero estudo Zen entre os samurais, que era intimamente ligado às artes da guerra. No Zen não há elaborações; ele visa diretamente a verdadeira natureza das coisas. Não existem cerimônias nem ensinamentos: a recompensa Zen é essencialmente pessoal. Iluminação, no Zen, não significa estritamente uma mudança no comportamento, mas sim uma percepçào profunda da natureza da vida comum. O ponto final é o começo e a grande virtude é a simplicidade.

Dessa forma podemos compreender como as etapas para obter a maestria em qualquer habilidade - incompetência inconsciente (sequer sei que não possuo tal habilidade ou conhecimento), incompetência consciente (sei que não possuo tal habilidade ou conhecimento), competência inconsciente (sei que possuo tal habilidade e conhecimento) e finalmente competência inconsciente (não sei explicar como, mas simplesmente possuo tal habilidade e conhecimento, ela faz parte de mim - nível de maestria) - já estavam imersas no cotidiano desses guerreiros há mil anos, considerando o período Kamakura, iniciado em 1185.

(...)

O ensinamento secreto da escola Kendo Itto Ryu, Kiriotoshi, é a primeira entre cento e poucas técnicas. É o ensinamento conhecido como "Ai Uchi", que significa golpear o oponente na hora em que ele golpeia você. É a alocação perfeita de tempo, é a ausência de ira. Significa tratar o inimigo como um 'convidado de honra'. deixando que ele tome a iniciativa. Significa também abandonar a própria vida ou, menos metaforicamente, abandonar o medo.

É a isso que chamamos "senso de oportunidade", a noção tão reta e "natural" de executar uma ação que é quase como se ela não fosse executada, mas apenas seus efeitos se encaixam no contexto modificando a confluência de forças em movimento em prol do seu objetivo e não do objetivo do oponente. O objetivo do oponente não é sequer considerado, apenas o fato de que o nosso objetivo ocorrerá primeiro e de forma mais natural, fluídica e poderosa.

(...)

A primeira técnica é a última, o iniciante e o mestre comportam-se do mesmo jeito. O conhecimento é um círculo completo. O primeiro capítulo da obra de Miyamoto Musashi, o "Livro das Cinco Esferas" ou Livro dos Cinco Anéis, é a Terra, como base do Kendô e do Zen, e o último livro é o Vazio, que é a compreensào, que só pode ser expressa como o 'nada'.

A princípio isso pode parecer complexo e pouco prático, não? Bem, eu o convidaria a pegar um carro e dar uma volta pensando nisso. Se você fosse capaz de dar a volta no quarteirão pelo menos, só pensando exclusivamente nessa frase acima, é uma indicação de que você já compreendeu o ensinamento sobre a Terra e o Vazio. Afinal, dirigir é uma habilidade prática (terra), que você introjetou a ponto de executar com maestria suficiente para poder deixar sua mente livre (Vazio) para pensar em outra coisa enquanto executa aquela habilidade. Maestria é isso e um pouco mais. É essa habilidade funcional primária que se torna uma maestria- uma segunda natureza - e, simultaneamente, é também uma habilidade em que você se torna pleno de potencialidades, o espaço do improviso, da sublimaçào da técnica, do 'vazio' como espaço pleno de potencialidades criativas e ações naturais orientadas pela técnica, que já não é técnica e passa a integrar a nós mesmos como um todo íntegro.

Os ensinamentos do Kendô são como os ferozes ataques verbais a que o estudante zen deve se sujeitar. Assaltado pela dúvida e pela dor, com a mente e o espírito tumultuados, o estudante é gradualmente conduzido pelo mestre à percepçào e à compreensão. O estudante de Kendô pratica furiosamente milhares de golpes dia e noite, aprendendo técnicas violentas de horríveis combates, até a espada tornar-se 'não-espada' e a intenção tornar-se 'não-intenção', simplesmente conhecimentos espontâneos de todas as situações.

É essa a essência de qualquer treinamento, aprender, tornar uma habilidade ou conhecimento 'naturais', 'inerentes', 'parte integrada' da pessoa. É essa a essência dos treinamentos ATENA"

Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Estratégia Social XXII

Descobrir o ponto fraco de cada um

Baltasar Grácian: A arte de influenciar a vontade do outros envolve mais habilidade que determinação. É preciso saber qual a porta de acesso. Cada vontade tem seu foco de interesse; varia de acordo com o gosto. Todos são idólatras: uns da estima, outros do dinheiro, e a maioria do prazer. A manha consiste em identificar os ídolos capazes de motivar os indivíduos. É como possuir a chave do querer alheio. É preciso atingir a motivação básica, que nem sempre consiste em algo elevado e importante. A maioria das vezes é mesmo muito baixo porque no mundo existem mais desordenados do que disciplinados. Primeiramente, avalie a índole; então toque no ponto fraco. tente-o com o objeto de sua afeição e infalivelmente dará xeque-mate no seu arbítrio.

ATENA: Suponhamos que a minha mente seja um país e que a tua mente seja outro país. A única forma de transladar uma idéia, um projeto, um sentimento para os territórios da mente alheia é conhecer-lhe bem a topografia, os costumes das gentes do lugar, seus valores e crenças. Entre a minha mente e a mente do outro há sempre uma divisão gigantesca que pode ser galgada por encruzilhadas ou atalhos. É conhecendo o outro, importando-nos com o outro, realmente nos interessando pelo outro que podemos mesmo levar algo para ele, quando ele se voltar para retribuir nosso interesse. Observe cautelosamente, aproxime-se de mãos estendidas. O abraço foi criado não só para aconchegar o peito, mas para mostrar as mãos nuas de armas. Para que você possa ser aceito, quando exportar tuas idéias para um país vizinho, procure ser bem visto nesse país, conhecer-lhe os valores e a quais deuses (interesses) os nativos de lá prestam homenagem.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Trabalho e realização pessoal - uma visão estratégica

Você está satisfeito? Melhor: Como você se sentiria se estivesse? Satisfeito ou incomodado? Alcançar a satisfação é entrar no que o discurso do mercado chama de “zona de conforto”. Essa tal “zona de conforto” opõe-se, no discurso pseudo-administrês/economês, à uma outra tal “zona de ação”, onde (em teoria) tudo é criado, pensado, produzido.

Nessa lógica perversa, sentir-se satisfeito, feliz, realizado, curtir o mérito ou o êxito pelos seus esforços é passível de culpa, penalização e ridícularização.

Ser insatisfeito é pertencer

A insatisfação é um estado de carência, de falta de alguma coisa, cujo suprimento se exige. Geralmente é uma expressão do que o ser humano precisa absolutamente para conservar e desenvolver a sua vida.

Existem necessidades primárias, fisiológicas, como a alimentação, a reprodução, a excreção, o sono e as necessidades secundárias, adquiridas ao longo da vida como necessidade de conforto, pertencimento social e afeto. Alguns chamam de necessidades instintivas e espirituais, outras de primitivas e intelectuais. A lógica é a mesma.

Saciedade, satisfação ou felicidade?

A saciedade é o estado de quem se saciou, é a fartura, é a satisfação plena de um apetite qualquer que nos deixa a sensação de estarmos repletos daquela questão, daquele ponto, daquele objeto. Podemos sentir isso claramente no quesito apetite. Não importa o quanto propagandas, diretas ou indiretas possam falar, mostrar ou musicalizar sobre determinado alimento, se estamos realmente satisfeitos, aquilo pode vir mesmo a nos causar nojo, asco, irritação.

A satisfação já opera num grau mais elevado. Está ligada ao contentamento, à alegria, ao deleite, ao aprazimento. Geralmente ocorre como uma sensação de reconhecimento ou recompensa por algum esforço. É uma espécie de retribuição bem coordenada por alguma espécie de mérito.

E a tal felicidade? A felicidade, símbolo máximo dos longos e musicalizados comerciais de banco e companhias de seguro, é um estado de ventura, de grande e inegável contentamento com algum bom êxito ou sucesso ou mesmo com a boa sorte em algum aspecto da vida, cujo sentimento de realização opera em todos os campos e se alastra incluindo e influenciando nossa vida em outras áreas alheias à área em que nos sentimos pela primeira vez “felicitados”.

Se o homem do início do século XX era “um cadáver adiado que procria” (Machado de Assis), o homem contemporâneo é uma felicidade adiada que produz.

A noção de saúde

Em 1948 a Organização Mundial da Saúde redefiniu o conceito de “saúde” para: “estado de completo bem-estar físico, mental e social, não meramente a ausência de doença ou enfermidade.”. Saía de cena o modelo biomédico de uma saúde exclusivamente orgânica, ligada à sobrevivência do indivíduo e entrava em vigor um modelo holístico, em que a – muito falada e pouco definida - “qualidade de vida” se tornava um valor forte para a o indivíduo.

Isso não se deu de forma arbitrária e sem nenhuma ordem crítica ou científica. Os estudos, principalmente nas áreas da psicologia e do comportamento, enfatizavam as relações entre a mente e o corpo. Todo o quadro científico da época era muito propício a essa mudança no conceito de saúde:

. Os estudos sobre “estresse” operados nos ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial.
. Os estudos sobre integração e reintegração social
. Os estudos sobre capacidade afetiva de enfrentamento da realidade, seja dentro ou fora do contexto de guerra. (existiam dificuldades dos dois lados).
. Os estudos sobre o “sentido de coerência” interna do sujeito, na direção da narrativa que coordena sua vida. (Antonovsky)
. Os estudos sobre a “sucetibilidade generalizada” (o que chamaríamos popularmente de “cabeça-fraca”). (Marmot, Shipley e Rose)
. Os estudos na área do comportamento organizacional, efetuados por Elton Mayo, Kurt Lewin e Abraham Maslow.

Além da Pirâmide, os estudos de Maslow

Abraham Maslow, que, ao contrário do que ensinam a maior parte dos livros e cursos que se utilizam de forma superficial de sua teoria, nunca criou nenhuma pirâmide hierárquica com os termos que separou e estudou em vida, dizia que a auto-realização – o sentimento de crescer e desenvolver-se como indivíduo – era em si se não o maior, um dos maiores motivadores para o ser humano.


Da mesma forma a contínua tentativa de aumentar o controle sobre o comportamento do indivíduo gera (no ambiente do trabalho, por exemplo) uma rigidez gerencial excessiva que tende fortemente a levar o funcionário à apatia e desinteresse. O ideal, caso desejássemos uma atividade que efetivamente engajasse e motivasse o funcionário, seria operar com algum grau de flexibilidade.

A solução perversa

Com a prova científica de que o controle crescente gera boicote direto ou indireto, a solução do discurso do trabalho – viciado em poder e controle – foi “introjetar” o controle, colocar ele dentro da cabeça do trabalhador, criar uma espécie de fortalecimento de um “superego*” gerencial e cultural do “empreendedor”, do capaz, do potente, do líder, do vencedor. Com o controle operando “a partir de dentro”, com a responsabilidade deixada a cargo do trabalhador, teoricamente, ele poderia sentir-se mais livre para desenvolver seu potencial dentro do que lhe é pedido, das tarefas que tem de executar. Mas o que ocorre efetivamente é que muitas vezes ele perde o sentido do trabalho, se sente cada vez mais desligado do significado do que faz e se torna mais e mais incerto, inseguro e tenso em relação a si e às suas capacidades, afinal, pedir conselho, assumir qualquer dúvida ou insegurança é provar-se indigno do cargo que ocupa, ineficiente, inepto, incapaz, seguidor, inferior. Essa lógica perversa aniquila a saúde mental e física do trabalhador.

Mais do que qualquer processo externo de coerção gerencial, a autocrítica e a autocensura, aniquilam a auto-estima e geram as mais diversas patologias mentais e físicas. Há um provérbio ruandês que diz: “Você pode se distanciar de quem está correndo atrás de você, mas não do que está correndo dentro de você.”

Nenhuma criatividade

O mecanismo é simples e até mesmo antigo. Na Grécia Antiga tínhamos a classe dominante dos “Aristói”, dos aristocratas. “Aristói” é uma palavra grega que vem de “Areté”, que significa “ser o melhor”, “qualidade dos melhores” ou “superioridade”. Daí o termo “Aristocracia” ou “governo dos melhores”, “dos superiores”, “dos líderes naturais” etc. Parece familiar?

Hoje em dia o discurso do trabalho procura unir, de forma perversa, o conceito do Aristói grego, do “melhor”, do “líder”, do “vencedor” ao conceito de mérito. Até aí tudo bem: se um determinado indivíduo efetivamente é mais capaz que seus concorrentes em dado momento, que lhe seja permitido, depois, viver seu mérito e gozar do fruto de seus esforços. Nada mais justo, aliás. O problema real é que há muitos seguidores para um líder, muitos derrotados para um vitorioso, e é nesse ponto que se opera a perversidade da instrumentalização da vergonha dos demais, dos “não vencedores”, dos “não líderes”, dos “não pró-ativos” como forma de dominação introjetada, de dentro para fora.

As exigências absurdas desse super-ego fabricado, catalisador do trabalho e castrador das expectativas de retorno e satisfação é que geram uma insatisfação crescente.

Prisão emocional

Os valores do super-ego do trabalho contemporâneo: combatividade, agressividade, assertividade, competitividade, eficiência, eficácia, controle emocional, pró-atividade e liderança tendem a gerar uma sociedade emocional e psiquicamente imatura, viciada em projetar sua satisfação no futuro, culpabilizada pela satisfação gerada por seus sucessos e dependente das ofertas de pertencimento e sentido de vida disponíveis no Mercado.

Se eu pretendo que minha empresa vá ser estrategicamente dirigida e que prime pela inovação e pela criatividade (a única forma sustentável de ser competitivo), não posso ter funcionários com esse perfil. Não posso admitir novos funcionários com esse perfil e não posso permitir que os antigos permaneçam assim. A única forma para conseguir ir além dessas limitações é treinar meu funcionário para que aja e pense e forma diferente desse padrão e encorajá-lo a se interessar efetivamente pelo que é criado ou oferecido na minha empresa, tendo sempre a noção de que ninguém se interessa a troco de nada e de que alguma troca deve ocorrer dentro da escala de valores, do que é importante, para o meu funcionário. Deve haver alguma espécie de recompensa sem culpa embutida.

Liberdade

O primeiro passo para sair dessa prisão psíquica é olhar para trás e estranhar. Estranhar nossas decisões e os critérios que levaram a elas, estranhar nossos incômodos e as forças que agem por trás deles, estranhar nossa insatisfação e perguntar: Eu estaria realizado se estivesse satisfeito? Ou eu estaria tenso, irritadiço, inseguro, na “zona de conforto”?

Mais importante de tudo é questionar a si mesmo: Meus estudos, minhas horas de dedicação e esforço, minhas noites em claro, foram para que eu vivesse essa tensão eterna entre estar insatisfeito por não ter cumprido com alguma meta ou, por outro lado, estar inseguro, irritadiço e tenso por cumprir determinada meta, pensando que o prazer de se sentir satisfeito é algo pelo qual eu deva sentir vergonha?

No fundo o que mais conta é que a escolha sobre a sua vida é, sempre, sua.

Renato Kress,
Diretor do Instituto Atena

Sobre desenvolvimento do conceito de “eu”, da personalidade e criação de um estado pessoal de recursos para a batalha do dia-a-dia:
A Jornada do Herói

Sobre administração e gestão estratégica:
Estratégia em Ação – módulo básico

Sobre alternativas à lógica perversa do trabalho, estratégias e táticas inovadoras:
A Arte da Guerra Oriental

Sobre Liderança inteligente:
Liderança corporativa e PNL



Superego: Sistema que representa motivos morais (família, comunidade, trabalho). Princípio de moralidade que cerceia e limita nossas condutas. As funções do superego são: estabelecer um sistema de valores e integração do ego-ideal (deveres, exigências, ordenamentos e proibições), direcionar os comportamentos e atitudes por este sistema de valor e, principalmente, excluir atitudes e modos de comportamento que não correspondem ao ideal imaginado através da autocrítica e da autocensura.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Estratégia Social XXI

O bom entendedor

Baltasar Grácian: Saber argumentar foi outrora tido como a suprema arte. Hoje não basta. Temos de adivinhar sobretudo nas questões que podem nos enganar. Não pode ser entendido aquele que não é bom entendedor. Há videntes do coração e linces das intenções. As verdades mais importantes se exprimem sempre por meias palavras; só os atentos as compreendem totalmente. Nos assuntos que parecerem favoráveis, puxe as rédeas de credulidade. Nos odiosos, use as esporas.

ATENA: Dentre os pressupostos da programação neurolingüística o mais sábio é o que nos remete à compreensão e à tolerância do outro: "O Mapa não é o território". Nossa compreensão do mundo é um "mapa" da realidade, moldada por nossas percepções, nossas vivências. O mundo, a realidade em si, só pode ser captada por nossos sentidos, por nossa visão, audição, tato, paladar e olfato. Damos ênfases diferentes a essas "vias de acesso" da realidade à nossa mente e essa ênfase é o que determina nossa representação da realidade. Não agimos sobre a realidade em si, agimos em relação à nossas representações da realidade e o erro que nos remete à incompreensão do outro, em geral, é considerar que o nosso "mapa" da realidade é o "território", a realidade em si. Compreender que nossa visão de mundo não é a única viável, nem "a" verdade absoluta é o que nos possibilita crescer na compreensão do outro e incentivar que esse outro tenha interesse em nos compreender.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Estratégia Social XX

Temperar a imaginação

Baltasar Grácian: Devemos ora refreá-la, ora estimulá-la. Toda felicidade depende da imaginação, e esta deveria ser temperada pelo bom senso. Às vezes ela se comporta como um tirano. Não lhe bastando especular, toma conta de nossa vida, a qual torna agradável ou desagradável, tornando-nos infelizes ou satisfeitos demais conosco mesmos. A alguns causa só desgosto, pois a imaginação é um algoz dos tolos. A outros promete felicidade e aventura, alegria e vertigem. Ela pode fazer tudo isso, se for temperada pela prudência e pelo bom senso.

ATENA: A imaginação é a porta para a dscoberta. Tudo o que hoje é foi antes um dia pensado. Desde uma cadeira, uma casa, a idéia de justiça ou ao amor romântico, tudo foi criado pelo homem, cuja mente é mais dinâmica e criativa que o mundo que o cerca. A imaginação é a passagem para universos incríveis ou para divagações inúteis. A melhor forma de dar vazão à criatividade, é justamente balizá-la como um rio, um fluxo contínuo balizado pela realidade factual e a "verdade" constituída em uma margem e todo o espectro das possibilidades da vida humana, na outra. O trabalho contemporâneo é trabalho criativo, para o qual a criatividade é a essência, e para isso ela deve fluir, balizada pela realidade e pela viabilidade.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Equilíbrio Emocional e Gestão

“Vivemos em uma época perigosa. O homem domina a natureza, antes que tenha aprendido a dominar a si mesmo.”Albert Schweitzer – Francês, Teólogo, médico, escritor, prêmio Nobel da Paz.

Vivemos num universo do trabalho que se caracteriza pela multidisciplinaridade e, principalmente no que tange ao universo do trabalho, o melhor recurso, aquele sem o qual nenhuma empresa é capaz de se erguer ou sustentar por longo tempo, é o recurso que cria, que sente, que observa e induz, que é capaz de surpreender e se desenvolver sempre, o recurso humano. Então como trabalhar esse material, como desenvolvê-lo para que esteja sempre se superando quando a única certeza que podemos ter sobre as pessoas é a de que elas são totalmente diferentes?

João quer um aumento de salário, Pedro férias prolongadas, Marta gostaria de uma sala maior, Sônia uma placa com seu nome, Rubens gostaria que seu chefe olhasse nos seus olhos, lhe apertasse a mão e dissesse com franqueza “bom trabalho”. Seres humanos são diferentes, suas perspectivas, desejos e expectativas também.

Compreender a personalidade dos funcionários ajuda os administradores e conselheiros das organizações a aproveitar as diferenças individuais para facilitar o trabalho em equipe, para favorecer o desenvolvimento das competências e melhorar o desempenho.

Trabalhando a psique no ambiente de trabalho

O ambiente de trabalho não deve ser apenas o ambiente em que se materializa o produto que se espera comercializar, mas principalmente o espaço onde o produtor se torna cada vez mais apto e interessado em produzir constantemente novas idéias, projetos e concepções dentro do que se espera dele.

O ambiente de trabalho é ambiente de aprendizado, principalmente para a mente. Grande parte da carga emocional que nos impulsiona e nos desafia a aprender se apresenta nesse ambiente. Não seria interessante utilizá-lo conscientemente para esse fim?

A estabilidade emocional do funcionário

Segundo Rolland in L’évaluation de La personnalité: le modèle en cinq facteurs (2004), o fator “estabilidade emocional” se relaciona com um sistema de percepção da ameaça, real ou simbólica, e com a reatividade a essa ameaça. Essa reação a ameaça, a instabilidade que se cria para reagir à real ou imaginária ameaça, é composta pelas dimensões a seguir:

  • Ansiedade
  • Cólera
  • Depressão
  • Timidez social
  • Impulsividade
  • Vulnerabilidade ao estresse

As pessoas que apresentam maior estabilidade emocional apresentam geralmente uma atitude calma e ponderada. Na linguagem corrente, diz-se que essas pessoas sabem guardar seu “sangue-frio” nas situações estressantes. No limite, elas podem parecer despreocupadas e indiferentes diante dos acontecimentos.

Certos ofícios ou profissões exigem um nível particularmente elevado de estabilidade emocional; é o caso dos bombeiros, dos policiais, do pessoal que trabalha com emergências em hospitais, dos soldados, professores da rede pública que trabalham em comunidades dominadas pela criminalidade etc.

As pessoas em que esse traço está pouco presente têm, pelo contrário, tendência a ter em vista o pior, a se preocupar com tudo e por uma ninharia, a ter uma imagem pouco valorizada delas mesmas e tendem a experimentar, com freqüência, afetos negativos tais como o medo, a vergonha e a tristeza. Da mesma forma, essas pessoas seriam mais propensas a vivenciar a angústia psicológica.

O convite à aventura

“A viagem da descoberta consiste não em achar novas paisagens, mas em ver com novos olhos.” – Marcel Proust. Escritor, autor de Em busca do tempo perdido.

A abertura para a experiência corresponde, de modo geral, ao interesse pela novidade. Embora este fator seja, muitas vezes, associado à inteligência, os dois termos não são sinônimos. A abertura para a experiência pode corresponder às fantasias, à estética, aos sentimentos, às ações e às idéias.

As pessoas de espírito muito aberto têm vários campos de interesse e procuram experiências novas. Elas preferem, de longe, a mudança à rotina. Muitas vezes podem ser percebidas como excêntricas ou rebeldes.

Indivíduos pouco abertos à experiência, pelo contrário, são atraídos pelas atividades concretas e práticas. Dada sua preferência marcante pela estabilidade, essas pessoas podem parecer rígidas.

Amabilidade e competição
A amabilidade é uma dimensão que serve para regular a tonalidade das relações e das trocas com o outro. As dimensões da amabilidade são:

  • Confiança no outro
  • Retidão
  • Altruísmo
  • Complacência
  • Modéstia
  • Sensibilidade aos outros

As pessoas caracterizadas por um alto nível de amabilidade mostram-se sensíveis às necessidades e às preocupações dos outros, mostram-se cooperativas e conciliadoras. Elas também são percebidas como pessoas doces e amigáveis. No limite, essas pessoas podem ter dificuldade para se defender no meio de um grupo.

Quanto às pessoas pouco agradáveis, muitas vezes podem expressar-se de forma egocêntrica e pouco empática. Elas se caracterizam, igualmente, por algum grau de frieza e agressividade. Em geral elas privilegiam um approach competitivo nos seus relacionamentos.

O caráter consciencioso

Este último caráter corresponde à assiduidade, à organização e à perseverança nas condutas orientadas para um objetivo. Este fator seria constituído pelas seguintes dimensões:

  • Competência
  • Organização
  • Sentido do dever
  • Procura do êxito
  • Autodisciplina
  • Deliberação

As pessoas muito conscienciosas atribuem uma importância muito grande ao êxito. Elas valorizam, notadamente, a pontualidade, os esforços e a disciplina. Quando esse fator é muito marcado, a pessoa pode ser percebida como muito aferrada ao trabalho, cheia de melindres e rígida.

Pelo contrário, um indivíduo muito pouco consciencioso dificilmente suportará as obrigações impostas pelo trabalho e tenderá a deixar para mais tarde as tarefas mais difíceis. Esses indivíduos serão percebidos pelas pessoas conscienciosas como tendo dificuldades para respeitar seus compromissos e como pessoas pouco confiáveis.

Identificar cada um desses padrões – em nós mesmos e nos nossos funcionários, e aprender em quais pontos podemos nos desenvolver para formarmos não apenas a concepção melhor de quem somos perante nós mesmos e nossas vidas, mas diante dos desafios do trabalho no mundo atual – é tarefa primordial de cada um de nós e um desafio salutar, enobrecedor e capaz de equilibrar, de forma dinâmica e intensa, nossas emoções, pensamentos e ações.

Renato Kress,
Diretor do Instituto Atena

Para equilíbrio emocional conheça:
A Jornada do Herói

Para gestão inteligente de recursos humanos conheça:
Estratégia em Ação (Módulo básico)
Liderança Corporativa e PNL